Título da redação:

"Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado"

Proposta: As implicações da automedicação na cultura do brasileiro

Redação enviada em 31/05/2016

“A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, o excerto de Paracelso, físico e médico do século XVI, retrata uma prática hodierna. Com os avanços tecnocientíficos e a evolução da medicina, os componentes da sociedade, buscando acompanhar a aceleração do cotidiano, desenvolveram uma atitude perigosa a si quando enfermos: a automedicação. As drogas que, no decorrer das décadas, foram estudadas e sofreram metamorfoses químicas para auxiliarem a longevidade dos homens, tornaram-se uma lâmina de dois gumes, isto é, ao mesmo tempo em que ajuda a combater organismos invasores, podem prejudicar o funcionamento de determinado órgão, ocasionando, em casos singulares, a falência do mesmo. Nesse âmbito, o fator elementar para o uso desmoderado de drogas farmacêuticas é o advento da indústria dos remédios. Nas propagandas, a solução para as enfermidades é apresentada de forma objetiva e eficaz. Todavia, na prática, os fármacos apenas mascaram o problema e, por cúmulo, a imprescindibilidade é questionada – conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de metade de todos os medicamentos receitados são dispensáveis ao tratamento ou vendidos de forma inadequada. Ademais, o ato deletério é intensificado pelo elevado custo das consultas médicas, somadas aos tributos inseridos na aquisição de medicamentos, fato que dificulta a aquisição de um plano de saúde privado. Embasado nisso, analisando a perspectiva do cidadão que opta pela utilização do Sistema Único de Saúde (SUS), nota-se o mecanismo falho, o qual não fornece uma estrutura confortável para um atendimento efetivo, o que ocasiona o uso de um meio externo ao real: a internet. A busca pelo atendimento online revela a incapacidade administrativa da Gestão e, consequentemente, a sociedade tende, de forma gradativa, a usar remédios por sugestões arriscadas – consoante o Instituto Nacional da Saúde (INS), mais de 96% da população de Salvador, capital baiana, opta por ingerir remédios indicados por familiares e amigos ao invés de procurar orientação médica. Ademais, a ineficácia estatal é tamanha que: o próprio Ministério da Saúde – órgão teoricamente responsável pela organização e elaboração de planos e políticas públicas voltadas para a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros – adverte a ida ao médico apenas posteriormente à persistência dos sintomas, depois de ingeridas as drogas, sendo que tal circunstância impregna ainda mais a ideologia da automedicação. Destarte, deve-se primordialmente reformular a ideologia governamental, de forma que, orientando os parlamentares do erro das campanhas públicas, através da internet e por meio de manifestações pacíficas virtuais, o diálogo entre sociedade e o Estado restaurará a sanidade da população a respeito dos riscos que a automedicação traz consigo. Além disso, investir efetivamente na melhora da infraestrutura hospitalar e, principalmente, na dispersão de médicos especialistas pelo território nacional é indispensável. Por fim, a Gestão deve atenuar a tributação dos medicamentos quando a receita – de consulta – for apresentada ao farmacêutico na compra das drogas, incentivando a busca pela orientação profissional. Dessa forma, construir uma sociedade equilibrada, através de doses corretas, se fará uma associação pressuposta por Paracelso séculos ante ao caos contemporâneo.