De acordo com o artigo 218 da Constituição Federal de 1988, é dever do Estado promover e incentivar o desenvolvimento científico. Entretanto, a falta de investimentos nesse setor evidencia que os direitos previstos no dispositivo legal não estão sendo cumpridos. Nesse contexto, os dilemas que envolvem esse processo ocorrem, sobretudo, em decorrência de fatores sociais e políticos, fato que necessita de medidas. Em primeira análise, é importante ressaltar como a falta de apoio estatal aos pesquisadores contribui para dificultar o progresso da ciência no país. Nesse sentido, segundo Pierre Bourdieu existe um capital constituído pelo conjunto de todo o conhecimento adquirido ao longo da vida, chamado “Capital Cultural”, o qual é utilizado pelas camadas dominantes para acentuar as diferenças, pois para acumulá-lo é necessário tempo, sendo este menos disponível, em muitos casos, para os descendentes da população mais pobre. Esse cenário afeta também o desenvolvimento científico, visto que os indivíduos de classes menos favorecidas financeiramente, sem o subsídio financeiro do governo, não tem condições de se dedicar integralmente a atividade de pesquisa, o que tende a fazer com que muitos a concilie com outros empregos, ou até mesmo a abandone .Isso pode culminar em uma situação alarmante já que tende a diminuir a quantidade de pesquisadores nacionais, bem como perpetua o cenário de desigualdade socioeconômica no país. Em segunda análise, é indubitável que a distinção entre gêneros, devido à formação sociocultural da população, contribui para os problemas relacionados à produção científica. Desse modo, segundo o filósofo empirista Jonh Locke, os homens nascem sem nenhum conhecimento inato, sendo este adquirido ao longo da vida. Dentro dessa perspectiva, ao atrelar a mulher, desde a sua infância, aos afazeres domésticos cria-se, em muitos casos, um distanciamento destas das atividades laboratoriais. Essa realidade é problemática uma vez que se naturalizou a atribuição de pesquisador ao homem , o que fere a pluralidade de uma sociedade democrática, além de corroborar a manutenção de práticas machistas. Fica clara, pois, a urgência em coibir essa preocupante realidade. Para isso, o Governo, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação deve aumentar os investimentos desse segmento, mediante a destinação de bolsas de estudo aos cientistas que possuírem insuficiência de renda. Além disso, cabe as Escolas promover debates multidisciplinares, por intermédio da inserção de temas que busquem ressaltar a importância das descobertas feitas por mulheres, em disciplinas do ensino fundamental e médio, como Ciências e História, com vistas a fomentar o acréscimo de cientistas do sexo feminino no Brasil.