Título da redação:

Que Brás Cubas não tenha razão

Tema de redação: As consequências do aumento de casos de microcefalia no Brasil

Redação enviada em 15/10/2016

Brás Cubas, icônico defunto-autor de Machado de Assis, declarou em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado de sua miséria. Na atualidade, o Brasil vive um surto de uma nova e preocupante epidemia, o Zika vírus. Essa doença, que tem como vetor o já conhecido Aedes Aegypti, associa-se ao desenvolvimento da microcefalia em recém-nascidos e expõe uma política de saúde pública que envergonharia Brás Cubas e ratificaria a sua decisão quanto as heranças sociais. A princípio, é válido salientar que o vírus do Zika foi descoberto na Uganda, em 1947, em macacos usados no controle da febre amarela. No entanto, ficou desconhecida até 2007 quando houve um surto de casos na Micronésia, Oceania. Desde então, os estudos referentes aos efeitos da zika mostraram a afinidade do vírus com o sistema nervoso, uma vez que alguns infectados desenvolveram a Síndrome de Guillain-Barré, que se caracteriza como uma inflamação do sistema nervoso. Nesse contexto, a partir de 2015, começaram a surgir os primeiros casos no Brasil atribuídos a doença, principalmente na região Nordeste. Assim, verificou-se que os sintomas do vírus do Zika eram muito semelhantes aos da dengue e da chikungunya, o que configura um agravante no diagnóstico da doença. Contudo, uma peculiaridade intriga a Organização Mundial de Saúde (OMS) que é o fato do número de casos de microcefalia associado ao zika serem muito maiores no Brasil do que em outros países afetados, como a Colômbia. Ademais, a situação brasileira é ainda mais crítica pois o vetor transmissor já está consolidado no país. Isso porque, a dengue compreende, há algum tempo, um grave problema de saúde pública. A fixação dessas doenças no Brasil expõe entre outras coisas a fragilidade da estrutura sanitária, a urbanização descontrolada e um deficitário sistema de saúde. Logo, uma vez constatada a microcefalia, que compromete o desenvolvimento cognitivo e não tem cura, a família necessita de serviços especializados para o tratamento, ampliando a demanda por uma saúde pública mais assistencialista e de qualidade. Fica evidente, portanto, a urgência de melhorias sociais e estruturais para atender a população afetada. Para tanto, cabe ao Executivo dispor de mais recursos para o saneamento básico e para a saúde, instituindo centros de apoio e tratamento, com equipe multiprofissional, em regiões próximas às famílias dos bebês com microcefalia. Além disso, os governos municipais e estaduais devem fiscalizar de forma mais eficiente os centros urbanos, com intuito de reduzir a proliferação dos vetores. E, por fim, a mídia e as ONGs devem disseminar campanhas estimulando os indivíduos a eliminarem os possíveis criadouros. Só assim, pode-se evitar que Brás Cubas tenha razão.