O filósofo ateniense Sócrates, na Grécia Antiga, século VI a. C., ressaltava a importância do diálogo na construção do conhecimento, método que ficou conhecido como Maiêutica. Dessa forma, ao confrontar opiniões divergentes, ele conduzia o indivíduo a desconstruir suas opiniões de base meramente expositiva e a elaborar ideias fundamentadas em argumentos consistentes. Na contemporaneidade brasileira, as bolhas sociais construídas, sobretudo, no ambiente virtual prejudicam a construção do diálogo e, desse modo, além de resultar na relativização da realidade, potencializam as dificuldades do país no convívio em um sistema democrático. Vale ressaltar que, frente ao demasiado número de informações presentes nas redes, surgiu o sistema de algoritmos como forma de selecionar e organizar informações conforme o perfil dos usuários. Apesar disso, esse sistema cria uma falsa sensação de conhecimento de todos os acontecimentos da atualidade, resultando na criação de bolhas sociais e, portanto, na relativização da realidade. Nesse sentido, ao realizar uma pesquisa acerca da corrupção ou violência no país, por exemplo, o sistema proporciona um elevado número de informações sobre esses assuntos, mesmo após o encerramento da pesquisa, e omite informações relativo a outros acontecimentos, como a luta antimanicomial ou mesmo as dificuldades enfrentadas pelos moradores de rua nas grandes cidades brasileiras. Outro fator preponderante na análise das consequências das bolhas sociais no Brasil contemporâneo é a potencialização das dificuldades de convívio em um sistema democrático. Conforme Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), aproximadamente 85% das leis aprovadas pelo legislativo advêm de medidas provisórias elaboradas pelo presidente da República, enquanto que, os projetos produzidos na Câmara dos deputados e no Senado, casas que representam os cidadãos brasileiros, ficam em segundo plano devido às dificuldades de consenso entre os parlamentares. Desse modo, percebe-se que as bolhas sociais prejudicam o debate, frente a diferentes opiniões, fortalecendo as pós-verdades de cada indivíduo e, com isso, dificultam ainda mais a busca de propostas que respeitem a diversidade presente na sociedade brasileira. Urge, portanto, medidas para solucionar esses impasses. No que tange a seleção de informações direcionadas aos usuários, os programadores de algoritmos devem criar ferramentas que possibilite aos indivíduos filtrar, de forma consciente, as informações as quais deseja ter acesso. Já no que diz respeito a potencialização das dificuldades de convívio em um sistema democrático é preciso que haja uma reforma política que diminua o poder do presidente em legislar o país, já que a função principal do executivo é colocar em prática os projetos advindos do legislativo, e que os parlamentares, visando a diversidade, bem como as desigualdades presentes na sociedade brasileira, criem e aprovem a maior parte das ações a serem postas em prática. Desse modo, mediante o rompimento das bolhas sociais, poder-se-á respeitar as diversas opiniões de cada indivíduo, desconstruir opiniões baseadas meramente em visão minimalista da realidade e construir um diálogo consciente, por meio da argumentação consistente dos fatos, pondo em prática os ensinamentos de Sócrates, que tanto contribuiu para a formação e desenvolvimento do pensamento ocidental.