De acordo com estudos antropológicos, as bolhas sociais são normais e contribuem com o autodesenvolvimento do indivíduo, que se sente seguro ao se identificar com um grupo, Todavia, segundo Sócrates, transformar doxa em verdade e, logo, ser inacessível ao diferente constitui quadro de ignorãncia setenciado a erros, já que o sábio é aquele que admite não passar de opinião o seu saber. Essas atitudes errôneas, denunciadas pelo filósofo, são notadas no preconceito e na falta de unidade política do Brasil contemporâneo. Em primeiro plano, é importante frisar a relação histórica entre a discriminação e as bolhas sociais. No Brasil escravista, o Senso Comum apenas consumia parte da ciência, arte e lei que legitimava a escravidão, tal qual a norma jurídica que admitia o negro como propriedade privada. Essa posição inquestionada levou a Conjuração Baiana, que reivindicava a abolição, a não ser ouvida, mas reprimida. Seguindo o padrão, então, em 2017, mesmo depois da OMS ter divulgado que homossexualidade não é doença, foi legalmente permitido que psicólogos a tratassem dessa forma, fato que representa a radicalização de uma posição já desacreditada, até mesmo, pela ciência. Assim, pode-se afirmar que a perda da alteridade é consequência da concepção da própria visão de mundo como única cabível. Ademais, a aceitação apenas do que é consoante é negativo à identificação de anseios comuns à população brasileira, visto que incondiz com o diálogo. A partir de 2013, último momento de benefício político da sociedade - resultado da representatividade alcançada pela junção de uma série de expressivas manifestações ao longo do território, reflexo de distintas opiniões unidas em um mesmo objetivo -, cresceu a bipolaridade que divide a nação. Durante os cinco anos sucedidos, coxinhas e petralhas, direita e esquerda, acusaram-se mutuamente, perdendo o poder da coisa una alcançado em 2013, o qual era capaz de pressionar efetivamente o governo. Dessa maneira, observou-se, nesse período, o aumento de escândalos de corrupção e de violência contracenados com movimentos que, embora igualmente contrários ao cenário, lutam, sem forças, pelas suas diferenças. Portanto, as bolhas sociais não se restringem a prejudicar determinados grupos, mas atuam no enfraquecimento da democracia. Depreende-se, destarte, que a Cultura de Paz, proposta por Paulo Freire, a qual prega o convívio produtivo com o que se distingue, deve ser estimulada a fim de que se extinguam as bolhas sociais. Para isso, o governo deve agir na veiculação da informação. O Poder Legislativo, por sua vez, tem que regulamentar as mídias, obrigando-as, por lei, a expressar o conteúdo deixando explícito ser apenas uma posição possível e, além disso, a proibir o uso de algorítimos nas redes sociais que, baseando-se nas curtidas do internauta, exibem o que concorda com seu perfil.