A superexposição nas redes sociais acarreta em uma alienante banalização da intimidade que é o aspecto singular do processo de individuação. No entanto, a constituição de uma identidade pessoal pode acabar diluída na dinâmica das relações virtuais. Essa diluição da identidade se dá de duas formas: na abstração fantasiosa de um personagem fabricado pelo indivíduo, com a intenção de ser aceito, e na exposição exagerada de aspectos de foro íntimo com repercussão que extrapola os limites imaginados pelo usuário dessas plataformas de interação social. Ao ingressar nessas redes sociais a pessoa consente com as regras do serviço prestado, preenchendo formulários que definem um perfil com informações e preferências que não necessariamente correspondem com a realidade desse indivíduo. Esse perfil representará a precária identidade do mesmo em sua aventura cibernética. Ocorre que, na maioria das vezes, um personagem é criado para atender a critérios compatíveis com o que está na moda, com o que é considerado interessante. Na medida em que essa pessoa passa boa parte do seu tempo alimentando essa quimera, ele vai afastando-se da sua própria natureza definidora, em franca fuga da sua realidade e de seus problemas. A intimidade é a última fronteira do ser. É o espaço especialíssimo a ser compartilhado com aqueles cuja confiança e afetos credenciam esse privilégio. Quando essa linha é abruptamente atenuada por descuido, ou mesmo rompida por invasão, imagens e palavras desconexas, fora de contexto, alimentam uma turba de usuários que promovem a rápida divulgação dessas informações, sem qualquer tipo de escrúpulos. Então, segue a vergonha, o desprezo social da figura devassada, por que vivemos em uma sociedade hipócrita a qual condena aquilo que pratica, contribui e participa do ato que censura. Fica evidente, portanto, que o bem-estar psicológico do indivíduo é ameaçado pelo excesso de exposição. Assim, tanto a ficção construída para esconder a realidade, que é essencial para se viver de maneira madura e responsável, como a exposição íntima da pessoa humana põem em risco a moral e a dignidade daqueles que participam desses espaços virtuais. Para atenuar as consequências dessa superexposição é necessário, antes de tudo, muito diálogo familiar. Pais e filhos devem procurar manter em pauta conversas diárias sobre comportamento nas redes sociais. O Poder Legislativo, de todas as esferas, deve criar mecanismos legais que promovam a rápida retirada de conteúdos que agridam a moral e exponham pessoas contra a sua vontade, capacitando e equipando delegacias especializadas em crimes cibernéticos.