Ao analisar a obra literária “Laranja Mecânica”, do autor Anthony Burgess, tem-se o retrato de uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções alarmantes, provocando uma reação igualmente agressiva do Estado. Fora dos livros, a crescente incidência de práticas violentas nos estádios de futebol é uma questão em pauta no Brasil, tendo como fatores motivadores a ineficácia dos órgãos públicos perante a problemática e a cultura intolerante que, infelizmente, encontra-se disseminada entre os brasileiros. Assim, o futebol, esporte detentor de adoração nacional, é sucumbido pelas barbáries cometidas pela população. Em primeira análise, é notório que a atuação ineficiente dos órgãos públicos é determinante para a acentuação da violência nos estádios. De acordo com o sociólogo Maurício Murad, nos últimos dois anos apenas 3% dos delitos no âmbito futebolístico foram punidos, evidenciando, assim, a impunidade recorrente em crimes dessa natureza, o que gera crescente banalização dos mesmos. Dentro desse contexto, a ação deficitária dos poderes Executivo e Legislativo, em conjunto com a falta de policiamento adequado nos estádios, contribui para a difusão de práticas hediondas nesse meio, que podem chegar a casos extremos, ocasionando mortes. Além disso, é válido ressaltar, também, que a intolerância enraizada na sociedade brasileira, oriunda do falho sistema educacional vigente, colabora com a intensificação da problemática. Segundo a filósofa Helen Keller, o resultado mais sublime da educação é a tolerância. Dessa forma, ao analisar a precariedade do ensino público do país, o qual, em sua maioria, não possui estrutura apropriada, observa-se que o papel de formar a ética e moral dos cidadãos não é efetivamente cumprido. Assim sendo, práticas violentas nos estádios são reflexo de tal realidade, abarcada por indivíduos que disseminam a intolerância em todas as suas formas por não terem sido devidamente instruídos. Evidencia-se, portanto, a necessidade de intervenções nesse cenário, que busquem atenuar a violência no âmbito futebolístico. Logo, é recomendado que o Poder Legislativo, por meio de votações no Congresso Nacional, atue na promulgação de leis mais rígidas acerca dos delitos cometidos nos estádios, com o fito de, aliado a ação mais efetiva do Poder Executivo, diminuir a recorrência desses na sociedade. Por fim, cabe ao Ministério da Educação promover a inserção de nova matéria na grade curricular das instituições públicas de ensino que vise construir mentes com princípios éticos alicerçados pelo respeito e pacificidade, reduzindo, assim, a incidência de atos intolerantes não só nos estádios, mas em todos os âmbitos sociais.