Ao longo da construção do imaginário coletivo nacional, a prática do futebol e sua exaltação, de modo marcante, fizeram-se presentes como um símbolo do povo brasileiro e motivo de orgulho, devido aos títulos conquistados e aos grandes jogadores. Todavia, contemporaneamente, a situação de violência nos estádios, como produto da inaplicabilidade da lei e da cultura de agressividade, urge como pauta imprescindível para a obtenção de um Estado mais justo e ético. Em um primeiro plano, é clara a relação entre a manutenção do cenário de agressões no ambiente destacado e a não aplicação efetiva da legislação, haja vista que, se presente, coibiria o ato em questão. A gênese desse paradigma alicerça-se na compreensão de que, enquanto a punição não for um realidade empírica para todas as pessoas, os agressores continuarão a fazer vítimas , e essas permanecerão desprotegidas e não ouvidas. Nessa perspectiva, conquanto a Constituição preze prioritariamente pela proteção do indivíduo, segundo o Ministério do Esporte, apenas 3% dos processos de violência no âmbito esportivo resultam em condenação. Dessa forma, é visto que uma solução para a problemática passa pela ampliação dos mecanismos de repressão aos atos desse gênero na sociedade. Em um outro plano, a agressividade presente entre as torcidas consubstancia um quadro de acentuada hostilidade nos locais onde times disputam partidas, pois cria-se uma rivalidade que ultrapassa os limites da convivência harmônica. A raiz desse fato psicossocial fundamenta-se na compreensão de que, embora um dos objetivos do futebol seja promover a interação social e o lazer, parcela dos torcedores, ao ingressarem em estádios com a intenção de promover violações físicas ao próximo, distorcem tal função. Nesse sentido, tem-se grupos como a torcida organizada do Corinthias, a Gaviões da Fiel, conhecida pelo envolvimento em graves acontecimentos de espancamento e vandalismo. Desse modo, é revelado um grave paradigma de desrespeito e abuso no ambiente esportivo do país. Portanto, do aspecto legal ao comportamental, para que seja suprimida a questão da violência nos estádios, é preciso haver mudanças. A fim de proteger os indivíduos, o Poder Judiciário, órgão de extrema importância para garantir o cumprimento da Constituição de 1988, deve punir com maior rigor, por meio da adoção da pena máxima para os casos de agressão no meio em destaque, aliada ao investimento em mecanismos de denúncias online e de pressionar o Governo do Estado para ampliar o policiamento nas partidas futebolísticas. Concomitantemente, o Poder Executivo em associação com o clubes têm a função de prevenir ações violentas, por intermédio da proibição da entrada de pessoas envolvidas com esses crimes nos jogos, além da instalação de câmeras de vigilância em todo o ambiente, para que esses locais sejam áreas de divertimento e confraternização. Dessa maneira, será possível a exaltação do futebol de forma segura e ética.