Aparato jurídico às atividades desportivas, o Estatuto de Defesa do Torcedor, especialmente no décimo terceiro artigo, pugna pela segurança dos espectadores das competições. Hoje, contrapostas ao previsto e ao clima de festa atribuído ao esporte, ocorrências de selvageria são registradas em tais eventos. Configura-se, desse modo, em virtude da negligência no âmbito familiar e da ineficácia dos mecanismos de punição, a problemática da violência nos estádios de futebol. Em primeira análise, a inversão de valores no seio familiar contribui para a problemática. A falta de apoio e de estrutura – intrínsecas ao conceito chamado de "Modernidade Líquida" pelo sociólogo Zygmunt Bauman, no qual a sociedade contemporânea estaria imersa em instabilidade – ausentam o cumprimento dos principais papéis da instituição parental: ceder ideias de educação, tolerância e moral. À vista disso, jovens e adultos – de todos os demais meios e classes sociais, aliás – são alienados pela paixão ao futebol e, consequentemente, transformam-se em deliquentes, responsáveis pela perpetuação de uma realidade cruel e ameaçadora. Ademais, a impunidade corrobora o impasse. Ainda que a legislação adequada esteja em vigor e o tema permaneça no centro dos debates públicos, pouquíssimos casos são julgados anualmente, em função da dificuldade em identificar os agressores e da conivência do sistema. Dessa maneira, reforça-se a reincidência, haja vista que não existe incentivo à mudança. Nesse contexto, por exemplo, os assassinos do garoto Kevin Espada, morto por sinalizadores em um jogo da Libertadores em 2014 – já detidos por confusões em estádios anteriormente – não foram punidos. Isto posto, vê-se a possibilidade de impedimento dos futuros episódios. Dessarte, relativamente a tamanho dilema, urge que as instituições de ensino, mediante instrução do Ministério da Educação e concomitância as famílias, têm o papel de promover palestras sobre os conceitos de vitória, derrota e humanidade, por meio da participação voluntária de sociólogos e psicólogos, trazendo ao debate a importância do respeito, no fito de evitar uma geração intolerante. Além do mais, cabe ao Ministério da Justiça criar um departamento policial especializado na fiscalização dos eventos esportivos, a partir de investimentos estatais. Dessa forma, deve-se procurar evitar a entrada de torcedores com histórico de violência, bem como coibir rapidamente os incidentes, a fim de mitigar a questão. Assim, o "País do futebol", exaltado na música de MC Guimê, terá o décimo terceiro artigo plenamente cumprido.