No fim da década de 20, surgiu, no Brasil, o Movimento Antropofágico que tinha como finalidade absorver as influências estrangeiras e criar uma produção cultural genuinamente brasileira e, dessa maneira, gerar a identificação entre o povo da nação verde e amarela. Contudo, segundo Nelson Rodrigues, os brasileiros têm dificuldade em valorizar-se culturalmente, comportamento que o escritor apelidou como “Complexo de vira-lata.” Nesse contexto, é mister analisar como a ignorância, em consonância com a escassez de políticas públicas de fomento à cultura, contribui para que tal quadro de desvalorização se instaure com o objetivo de combatê-lo. Em primeiro plano, é importante destacar que, de acordo com a canção ‘’Querelas do Brasil’’, de Elis Regina, ‘’O Brasil não conhece o Brasil’’. Por esse prisma, muito desse desconhecimento sobre a própria cultura vem da falta de interesse que o brasileiro apresenta. Um exemplo disso é que, consoante o portal O Globo, apenas 16% dos cariocas priorizam atividades culturais, como cinemas e museus.Destarte, a cantora gaúcha não poderia estar mais certa ao afirmar que o povo canarinho desconhece o próprio país dele em várias esferas, principalmente na cultural. Além disso, é importante destacar que, para Karl Marx, a moral faz parte da superestrutura da sociedade e, desse modo, tende a obedecer o interesse das classes dominantes em cada momento histórico. Nesse viés, tendo em vista uma elite econômica que, devido, a produção cafeeira, focou-se muito nos interesses das regiões localizadas no Sudeste e Sul, algo que implica, também, nos investimentos voltados à produção e divulgação cultural, relegando, os projetos de de outras áreas, como o Norte e Nordeste, a segundo plano. Prova disso é que, de acordo com o site Nexo Jornal, em 2015, as regiões do Centro-Sul captaram, juntas, cerca de 88% de todos os recursos da Lei Rouanet. Dentro dessa lógica, os investimentos na área da cultura tendem a ser coerentes com o interesse das classe dirigente da população, comprovando o pensamento do escritor alemão. Assim, portanto, medidas que visem lutar contra o cenário discutido são urgentes. Com esse fim, o Ministério da Cultura, em conjunto com as ONGs, voltadas à difusão cultural, deve, usando as redes sociais como meio para a divulgação e atração de um grande público, criar feiras culturais, nas capitais de cada estado, que abranjam uma grande diversidade de expressões culturais do maior número possível de regiões do Brasil. Logo, pouco a pouco, talvez os brasileiros superem o complexo de vira-lata e os ideais do Movimento Antropofágico sejam atingidos.