Num mundo cada vez mais imediatista e impulsionado pelo capitalismo, muito se fala sobre atingir metas e ser eficiente, entretanto há poucos questionamentos sobre o caminho a seguir para alcançá-los. Isso demonstra o quanto a mentalidade maquiavélica – “os fins justificam os meios” – prepondera sobre a ética aristotélica, por meio da qual o homem deveria ter uma vida de virtudes e equilibrada a fim de atingir a eudaimonia – felicidade. Assim, a perda de valores éticos em diversos níveis da sociedade brasileira atual é preocupante e, em larga escala, pode acarretar um cenário caótico. Nessa perspectiva, convém analisarmos a dinâmica desse processo de forma a combatê-lo e manter a ordem social. Inicialmente é fundamental compreender como o quadro de impunidade no país contribui para a manutenção da prática antiética. Nesse sentido, pode-se mencionar o desastre ambiental ocorrido em Mariana em 2015, considerado o maior desastre ambiental no Brasil, e passados 3 anos apenas 3,4% das multas foram pagos por uma das empresas responsáveis. Além desse exemplo, há outro emblemático na história do país: a lei da anistia, que eximiu os militares da responsabilidade por terem cometido crime de tortura durante a ditadura militar. Diante de casos como esses, o indivíduo não se sente coagido a cumprir a lei e ser ético, uma vez que não há punição ou ela é incipiente para quem age de forma indevida. Além da impunidade, o isolamento social dos indivíduos, motivado pelo uso crescente dos meios virtuais de comunicação em detrimento do contato presencial, também corrobora para a continuidade da prática de condutas indevidas. Ao contrário do que propunha a globalização, os indivíduos nunca estiveram tão desconectados uns dos outros, o diálogo vem tornando-se cada vez mais raro e, com isso, as relações sociais ficam enfraquecidas. Dessa forma, sem ter uma relação sólida com o grupo social, o indivíduo torna-se mais facilmente corrompido, visto que o sentimento de pertencimento perde força. Se esse desvio de conduta não for combatido, o Brasil poderá alcançar um estado de anomia, no qual se perde o sentido de sociedade, ou seja, os membros da sociedade deixam de reconhecer o contrato social que os rege. Fica claro, portanto, que é imprescindível o resgate dos valores éticos na sociedade brasileira a fim de evitar um estado anômico. Para isso, a escola deve promover palestras de cunho educativo e abertas para a comunidade cujo tema seja “A Ética e a Importância dessa Prática”, nos quais por meio de exemplos cotidianos possa ser demonstrado como uma ação antiética pode afetar negativamente outras pessoas e, por isso, devem ser combatidas. Ademais, o Legislativo e o Judiciário devem trabalhar em parceria de forma a reduzir, respectivamente, a leniência da legislação e a morosidade da Justiça visando diminuir os maus exemplos e a impunidade. Somente por intermédio de atitudes éticas e equilibradas estaremos no caminho para alcançar o télos previsto por Aristóteles: a felicidade e a justiça.