Título da redação:

Celeiro de agrotóxico

Tema de redação: A tolerância aos agrotóxicos e seus efeitos no Brasil

Redação enviada em 01/10/2018

Na década de 1930, Getúlio Vargas, diante do potencial agrícola brasileiro, utilizou um slogan que até hoje é repetido: “Brasil, o celeiro do mundo”. O país ainda não conquistou essa posição no cenário mundial de agricultura, contudo, é o líder no consumo de agrotóxicos. Estes, são utilizados de modo excessivo e inadequado na maioria das propriedades rurais e impactam, não só no meio ambiente, como também na saúde pública. À vista disso, para compreender e enfrentar essa problemática, faz-se necessário analisar tanto as questões governamentais, quanto a mentalidade social de parte dos agricultores. Por certo, as ações estatais estão entre as causas do problema. A Lei número 7.802 regulamenta a comercialização e o controle do uso de agrotóxicos nas lavouras brasileiras. O que se nota, entretanto, é o não cumprimento desse estatuto, haja vista que, devido à falta de fiscalização, agroquímicos proibidos pelo governo são utilizados ilegalmente por produtores rurais. Prova disso é que, segundo a Anvisa, no Brasil, 28% dos alimentos contaminados por defensivos agrícolas contêm substâncias não autorizadas, as quais contaminam o solo, os rios e promovem o desenvolvimento de doenças como o câncer. Logo, evidencia-se a importância da observância da legislação como forma de combate a problemática. Outrossim, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, a sociedade pós-moderna é caracterizada pela transformação do cidadão em consumidor e pela substituição da coletividade pelo individualismo. Nesse sentido, nota-se que as empresas responsáveis pela venda de agroquímicos apresentam os defensivos agrícolas como símbolo de eficiência na produção e na lucratividade. Em decorrência disso, a demanda pelos pesticidas aumenta e a sociedade brasileira torna-se vulnerável, pois o culto ao lucro sobrepõe-se ao manejo sustentável, capaz de conciliar produtividade e meio ambiente e de garantir a qualidade do cultivo. Desse modo, promover ações para mudar o comportamento social no âmbito rural, é medida que se impõe. Destarte, o uso indiscriminado de pesticidas é resultado da ainda fraca eficácia das leis e da mentalidade pós-moderna pautada na “cultura do lucro”. Urge, portanto, que o Ministério da Agricultura, aliado às esferas estadual e municipal de poder, elabore um plano de implementação de novas sedes da Divisão de Fiscalização de Agrotóxicos, sobretudo em áreas com maior percentual de agricultores, para monitorar o uso de agroquímicos e assegurar a segurança alimentar. Além disso, cabe às cooperativas agrícolas orientar os produtores rurais, por meio de fóruns de discussão, sobre os perigos do uso excessivo de defensivos e sobre como a utilização consciente dos recursos naturais – agroecologia – pode ser rentável. Talvez, assim, poder-se-á transformar a propaganda varguista em uma realidade.