Na série norte-americana "Os 13 Porquês", a protagonista, Hannah Baker, constantemente encontrava-se em situações nas quais seu corpo e privacidade eram violados, representando um grande cenário de opressão. Fora da ficção, na contemporaneidade brasileira, essa atmosfera de repressão é frequente, o que banaliza o assédio sexual e demonstra a relevância da discussão sobre esse grave impasse social. Diante disso, convém analisar a questão e suas problemáticas. Cabe apontar, em primeira instância, como se constitui a presença do assédio sexual na sociedade brasileira. Nesse sentido, essa realidade está impregnada no contexto nacional, sendo frequentemente estimulada por músicas, a exemplo do funk, e por mídias televisivas e onlines que objetificam o corpo, principalmente, da mulher. Sob esse viés, a visão normalizada dessas atitudes é comprovada pelos locais onde ocorrem, os quais, segundo dados divulgados pela Folha de São Paulo, são majoritariamente áreas públicas, como transportes coletivos e vias urbanas. Assim, o medo concretiza-se e a liberdade de muitos indivíduos é limitada. Desse modo, percebe-se a gravidade da situação, a qual precisa ser corrigida. Todavia, existem percalços que dificultam a resolução dessas circunstâncias. Nessa perspectiva, observa-se a fragilidade das punições para crimes de assédio, em que, como no caso do homem que ejaculou repetidas vezes em mulheres no ônibus de São Paulo, os agressores saem impunes, contribuindo com a recorrência desses fatos. Paralelo a isso, o debate sobre o malefício e a importância de combater essas situações não possui grande expressão, o que torna o tema um tabu social. Por conseguinte, intervenções são necessárias, uma vez que, segundo o sociólogo Durkheim, a sociedade é como um "corpo biológico" com partes interagindo. Dessa maneira, qualquer desequilíbrio, como o prejuízo social dessa realidade opressora, é maléfico a todo o "organismo". Fica claro, portanto, a necessidade de se combater esse assédio sexual endêmico no Brasil. Sendo assim, o código penal precisa ser revisto, o qual, a partir do debate entre Legislativo e sociedade, deve caracterizar de forma contundente a constituição dessas atitudes e dispor de punições severas, com multas e tempos de reclusão maiores. Além disso, é necessário a garantia de acompanhamento psicológico para vítima e agressor, buscando corrigir traumas e encontrar possíveis gatilhos para essa prática. Tudo isso com fito de descaracterizar a atmosfera repressora presente na sociedade. Ademais, o Estado pode, junto as mídias e usando de séries, novelas e documentários, apresentar essa realidade e propor debates acerca dela.