O reinado do patriarcalismo é atestado, atualmente, pelo assédio sexual. Marca vergonhosa de uma sociedade construída sob a égide da desigualdade de gênero, é o exemplo mais prático do machismo no Brasil. Embora escancarado e constantemente relatado pelas mulheres, a normalidade com que muitos, inclusive autoridades, tratam o tema, contribui para a manutenção dessa prática repugnante. Essa violação à intimidade da mulher perpassou a formação histórica brasileira. Sendo o corpo, conforme o filósofo iluminista inglês John Locke, a propriedade primordial do indivíduo, nota-se a inferiorização à qual a mulher foi submetida. Estupradas e tratadas como objetos, tiveram negada a própria dignidade. Seu bem fundamental é, ainda hoje, vilipendiado, seja com cantadas na balada ou ejaculações no transporte coletivo. Os estupros do passado, escondidos sob a máscara da moralidade, continuam se manifestando na ocultação proporcionada pela postura equivocada de achar tudo normal - e ser uma atitude máscula invadir o corpo alheio. Nesse sentido, as violações constantes e diárias passam despercebidas. Muitos cidadãos, além disso, consideram culpa da vítima a violência moral: argumentos como "ela deveria se vestir melhor" são comuns na opinião pública. A verdade é que, por trás do "fiu fiu" na rua, relatado como comum em sondagem da Folha de São Paulo por 33% das mulheres entrevistadas, há a desvalorização da condição feminina. Isso comprova a permanência da mentalidade patriarcal. Nada estranho para quem elege, como representante do povo, deputados como o que julga qual mulher merece ou não ser estuprada. Percebe-se, portanto, que o pensamento machista leva a uma postura negligente da sociedade em geral. Cabe, dessa forma, ao Legislativo criar um projeto de lei que assegure punições mais severas ao assédio sexual, a fim de ser considerado crime, por violar a integridade alheia, e ganhar o repúdio da sociedade. Além disso, o movimento feminista pode incentivar, nas redes sociais, campanhas públicas, discutindo o tema e permitindo o debate em tais meios, com o fito de proporcionar uma nova visão dos cidadãos. Assim, poderemos pensar em uma sociedade livre de pensamentos retrógrados que diminuem a condição feminina.