Na América Latina é periódica a ocorrência de crises econômicas, sociais e políticas. No Brasil, pode se estabelecer uma relação entre essas crises e a consciência política nacional. Nesse sentido, os fatores de maior influência na instabilidade política são: a herança histórica e a forte polarização político-ideológica. De acordo com Lima Barreto, que é considerado um dos mais importantes escritores brasileiros, o Brasil não tem povo, tem público. O autor proferiu essa afirmação no período de transição entre o Brasil Império e o Brasil República. No entanto, a constatação do autor poderia, facilmente, ter sido escrita nos dias atuais, dada a permanência desse aspecto social na sociedade brasileira, caracterizando uma herança histórica. Assim, essa característica, quase intrínseca ao povo brasileiro, cria precedentes para que práticas como corrupção, peculato e nepotismo sejam perpetuadas pelos representantes do povo. Não obstante, tais práticas potencializam as eventuais crises econômicas, sociais e de ética, dada a má gestão e o desvio de conduta das autoridades brasileiras. Além disso, o cenário político nacional é marcado por uma remanescente polarização político-ideológica - Direita "versus" Esquerda. Assim, surgem impasses referentes ao rumo que a política nacional deve seguir. Por exemplo, a questão da reforma agrária, que consiste na divisão dos latifúndios improdutivos existentes em nosso país, cuja execução acarretaria uma divisão mais democrática das riquezas nacionais e, em mesma medida, proporcionaria maiores oportunidades de empregos mas que, no entanto, não sobrevive à polarização política. Ainda assim, questões como geração de empregos e divisão justa de bens, quando negligenciadas, tornam possível a ocorrência de crises socioeconômicas que tanto afetam a sociedade brasileira. Isto posto, cabe ao Governo Federal, agindo em conjunto com os veículos da mídia, incentivar a participação política do povo, de maneira responsável e neutra, por meio da criação de um bloco de debates políticos - aberto à participação social via redes sociais, telefonia e e-mail - que deverá ser incorporado aos jornais televisivos de grande audiência de modo a fomentar o interesse político na população e, ainda, cabe ao Governo propor a ampliação das funções da Ouvidoria Geral da República, vinculada à Procuradoria Geral da República, para que a mesma possa intermediar as relações entre povo e Estado, garantindo, portanto, a efetividade do envolvimento social com as decisões políticas.