Título da redação:

Crises críticas

Tema de redação: A relação entre as crises brasileiras e a consciência política na sociedade

Redação enviada em 29/08/2017

Tenentismo. Passeata dos Cem Mil. Movimento dos Caras Pintadas. Esses grandes exemplos de manifestações populares brasileiras de contestação ao Estado evidenciam uma sociedade engajada. Contudo, hoje, nota-se, principalmente na juventude, a falta de maior interesse e consciência relacionados às questões de caráter político e suas problemáticas. Nesse contexto, é válido abordar o modelo educacional vigente e a era digital como potencializadores do cenário de baixa participação social em assuntos relacionados à administração pública. A priori, cabe dizer que a estrutura do sistema de ensino brasileiro segue uma lógica anacrônica. A fim de corroborar essa afirmativa, podemos lembrar de José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, em Portugal, quando disse ser inaceitável um modelo de educação no qual alunos do século XXI são ensinados por professores do século XX, mediante práticas do século XIX. Sob essa perspectiva, a maioria das escolas direcionam seus esforços unicamente para aprovar seus alunos no vestibular em detrimento da construção de cidadãos de senso crítico apurado, capazes de questionar medidas públicas prejudiciais à população. A posteriori, o intenso fluxo de informações gerado pelo advento da internet também é um responsável pela falta de maior consciência política na contemporaneidade. Mediante esse cenário, Zygmunt Bauman afirmou estarmos vivendo, atualmente, uma crise de atenção. Nesse contexto, a dificuldade de se concentrar e refletir acerca de leituras mais aprofundadas, aliada a uma grande escala de notícias e dados instantâneos de pouca fundamentação, gera o que o sociólogo chama de "fragmentos do conhecimento". Assim, é comum ver pessoas se confrontando em redes sociais mediante a comentários polarizados e rasos, sem promover, de fato, análises construtivas acerca do ambiente de crise brasileira. Fica clara, portanto, a necessidade de se buscar, hoje, o estímulo a um engajamento político semelhante ao existente na sociedade do século XX. Com esse objetivo, é essencial a ação das escolas. Estas podem introduzir em seu calendário anual aulas voltadas para análises de conjuntura político-social, com debates de ideias relacionadas a questões polêmicas, nos quais os alunos sejam incentivados a pesquisar e argumentar a favor e contra, como forma de desenvolver seu senso crítico. Ademais, essa mesma instituição social pode promover um trabalho de auxílio ao filtro de informações circulantes na internet por meio da organização de palestras mensais com economistas, políticos ou jornalistas, nas quais os alunos poderão obter dados aprofundados e certificar-se da veracidade do conteúdo observado em redes digitais. Desse modo, será possível vislumbrar uma sociedade futura de intensa participação política.