Brás-Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas Memórias Póstumas que não teve filhos para não transmitir a nenhuma criatura o legado da miséria humana. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de indignação e repúdio à reforma previdenciária, atualmente em debate no país, é reflexo de uma sociedade que não tem consciência dos problemas financeiro e social que podem ser gerados para a nação com a manutenção do sistema previdenciário atual. Em primeiro lugar, é importante analisar a questão das contas nacionais. Embora muitas pessoas não aprovem as mudanças propostas pelo governo, algo deve ser feito diante de tamanho desequilíbrio nas finanças públicas. Segundo o Governo Federal, o déficit do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) chegará a quase 200 bilhões de reais no ano de 2017. Logo, a consequência de tamanho rombo nos cofres públicos poderá ser a quebra do sistema previdenciário, que influenciará a qualidade de vida de milhões de brasileiros que trabalharam durante décadas para ter um resto de vida digno e tranquilo. Paralelamente a isso, outro fator a ser considerado no debate sobre a previdência é a mudança populacional ocorrida no Brasil nos últimos tempos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a taxa de fecundidade caiu de 6 filhos por mulher em 1940 para 1,5 filhos em 2014. Além disso, a expectativa de vida aumentou 25,4 anos nas últimas cinco décadas. O reflexo desse dado é o envelhecimento da população. Assim, a pirâmide populacional brasileira poderá ser invertida em pouco tempo, ou seja, o país terá menos jovens contribuindo com o INSS do que idosos recebendo a aposentadoria, o que gera uma equação impossível de ser resolvida. Portanto, alterações na previdência do país são necessárias para garantir a aposentadoria dos trabalhadores. O Governo Federal, através do Ministério da Fazenda, deve investir em propagandas de cunho reflexivo. Elas serão criadas por graduandos do curso de publicidade de universidades públicas, com o intuito de estimularem as pessoas a refletirem sobre as mudanças populacionais e o desequilíbrio das contas públicas no país. Caso as pessoas entendam e aceitem que a mudança é geral, necessária e vai beneficiar a todos, poderemos ter um futuro mais tranquilo e justo do qual Brás-Cubas pudesse se orgulhar.