Contraposta aos rudimentares instrumentos aplicados pelos povos paleolíticos em sua arte rupestre – elementares na exteriorização da execução e da finalidade das posteriores formas contemporâneas, de acordo com o antropólogo belga Lévi-Strauss –, insere-se, das pichações, a tinta spray. Ostentada em um necessário contexto social dos grandes espaços urbanos, esbarra, entretanto, no artigo 65 da Lei de Crimes Ambientais, que proíbe a conspurcação de edifícios e monumentos. Em um primeiro plano, o “picho” estabelece-se, à exemplo do movimento Modernista do século XX, como meio de ruptura aos padrões e grito de repúdio ao sistema desigual. De tal modo, expressa ideologias humanitárias e críticas sociais dos marginalizados e excluídos, contornando aspectos cinzas inerentes às cidades. Todavia, estrutura-se outro ponto: pela Justiça, por uma grande parcela da população e por João Dória, atual prefeito da cidade de São Paulo, responsável por um projeto de “embelezamento” da metrópole, a partir da retirada das pinturas das paredes, a pichação é encarada como subversiva e individualista, haja vista o acontecimento de invasões e danificações de bens privados – casas, lojas, fachadas de hotéis, etc. – para tal exercício. Além disso, em certos casos, há degradação de patrimônios públicos, exemplificada nas constantes violações da estátua de Carlos Drummond de Andrade, no Rio de Janeiro. Dessarte, a busca por um equilíbrio entre a forma de expressão e o respeito pela propriedade particular faz-se necessária. Governos municipais, aliados em um projeto do Ministério das Cidades, devem prover lugares adequados (praças públicas, por exemplo) à prática, incrementando diálogos constantes com os pichadores e forte fiscalização das demais áreas públicas, por meio da instalação de câmeras, a fim de evitar o desrespeito às regras. Ademais, em um programa compartilhado com toda sociedade, cabe as escolas articular debates que incentivem uma reformulação de certas visões preconceituosas. Dessa maneira, a problemática será mitigada.