Título da redação:

"Copo vazio"

Proposta: A questão da inclusão das pessoas com deficiência

Redação enviada em 04/11/2017

Na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, Brás rompe seu relacionamento com Eugênia, porque ela tinha uma disparidade no tamanho das pernas, expondo a discriminação existente contra pessoas com deficiência. No contexto brasileiro do século XXI, esse preconceito ainda se faz presente – seja estruturalmente, seja socialmente -, embora o Estado proponha medidas para extingui-lo. Em primeiro plano, é importante ressaltar que a defasagem na construção de uma massa que respeite as alteridades é o âmago da problemática. Segundo a premissa de Aristóteles, a qual está prevista no princípio de equidade da Constituição de 1988, o país deve dar a cada um o que lhe é devido. Entretanto, na educação brasileira, não há o estudo de ciências políticas, implicando a ignorância desse ideal e, logo, a obtenção de cidadãos incapazes de olhar para o outro. Dessa forma, quando a questão das pessoas com deficiência é posta em discussão, sempre há um posicionamento de integração, nunca de efetiva inclusão: o grupo tem que se adaptar à sociedade ao invés dela promover um ambiente propício. Prova disso é que, ainda que quase dez milhões de brasileiros tenham entraves auditivos, de acordo com o IBGE, o número de falantes de Libras é ínfima no Brasil. Aliado à esfera acadêmica, o fracasso de efetivação das normas do Governo Federal contribui para a persistência do revés. A criação do Estatuto da Pessoa com Deficiência e da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência englobam bastantes requerimentos para compreender a minoria. Entretanto, a falta de fiscalização dessas e de outras normas, como o dever da cidade de promover calçadas com rampas para cadeirantes, leva ao descumprimento descabido. Nos estacionamentos, por exemplo, é comum o uso das vagas reservadas a essa parte da população por indivíduos que não entram nos requisitos. Depreende-se, portanto, que é preciso mudar os alicerces da sociedade a fim de que as pessoas com necessidades especiais não sejam vistas como um fardo – da maneira que é apresentada por Brás Cubas -, mas como iguais. Com o intuito de modificar o senso comum de forma que preconceitos sejam desfeitos, cabe ao Ministério da Educação instituir o estudo de ciências políticas e, simultaneamente, dar mais ênfase à ética na disciplina de filosofia. Por fim, é imprescindível que o Poder Judiciário crie um órgão especializado na fiscalização das leis vigentes e aplique altas multas a quem não cumprir com o objetivo, visando a inclusão estrutural. Desse modo, a modificação de perspectiva proposta por Gilberto Gil em sua música “Copo vazio” – a de que não está vazio, mas cheio de ar – será aplicada aos cidadãos com deficiência, que tomarão uma imagem mais justa ante o povo.