O documentário brasileiro “Garapa” mostra o cotidiano de famílias do Ceará em estado de insegurança alimentar grave. É notório que esse problema não é encontrado apenas no território nordestino, mas em todo o país. Nesse contexto, deve-se analisar a histórica concentração fundiária e a desigualdade social como fatores motivadores da questão da fome no Brasil. A princípio, a herança latifundiária brasileira influi negativamente na problemática da fome. A esse respeito, o antropólogo brasileiro Roberto DaMatta afirma que para que haja a compreensão e resolução dos problemas atuais é necessário revisitar e reler o passado. Assim, a valorização da monocultura voltada para a exportação e nutrição animal em detrimento da agricultura familiar é uma herança colonial. Nesse sentido, o cenário atual é de uma sociedade que ignora os equívocos cometidos em seu passado, colaborando para que parte da população não tenha o suficiente para sua alimentação. Desse modo, observa-se que em um dos maiores produtores mundiais de alimentos a concentração fundiária agrava a problemática da fome. De outra parte, a desigualdade social contribui para a questão da fome no Brasil. Nesse sentido, uma passagem do livro “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, relata que o óbito Severino é a “morte de que se morre de fome um pouco por dia”. Dessa forma, a situação de pauperismo vivenciada pelo retirante dessa história é a mesma de diversos outros brasileiros. Como resultado, a disparidade de renda agrava a problemática da fome, e essa responde com uma retroalimentação positiva. Logo, constata-se que a má distribuição de renda no Brasil exerce papel importante na situação da fome no país. Pode-se perceber, portanto, que a problemática da fome deve ser combatida no Brasil contemporâneo. Sob esse aspecto, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, deve implementar a política de reforma agrária e realizar o ordenamento fundiário brasileiro, concomitantemente a geração de conhecimento cientifico e desenvolvimento de técnicas de produção para a agricultura e pecuária familiar, por meio de cobranças ao Executivo para que as terras sejam assentadas e de programas educacionais de melhoramento da manufatura para essas famílias, a fim de que ocorra a desconcentração da estrutura fundiária, a redução da pobreza e consequente promoção da igualdade e diminuição da problemática da fome. Também, é necessário que ocorra uma maior mobilização da sociedade civil, auxiliando ONGs, como a Ação da Cidadania, mediante mutirões de arrecadação de alimentos não perecíveis. Com isso, documentários como “Garapa” deixarão de retratar a realidade e serão apenas parte do acervo histórico do Brasil.