A obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, no início do século XX, retratava a trajetória de uma família de imigrantes nordestinos, que lidavam, diariamente, com a fome e a miséria. Decorridas décadas desde esse marco na literatura, a realidade brasileira ainda apresenta elevados índices da chamada insegurança alimentar. Nesse sentido, fatores de ordem econômica, bem como social, caracterizam a persistência da questão da fome no Brasil. É importante pontuar, de início, a influência de interesses financeiros na produção e na comercialização de alimentos. À guisa do pensamento de Marx, a capitalização dos produtos acarreta a desigualdade de acesso entre os indivíduos. Esse fenômeno é amplamente percebido no mercado alimentar, em que a incessante busca por maximizar os lucros impede o direito democrático à alimentação. Nesse contexto, a Revolução Verde, apesar de permitir um aumento exponencial na quantidade de alimentos, ainda manteve um sistema excludente aos produtos alimentícios pela constante associação da comida aos ganhos financeiros. Outrossim, tem-se as desigualdades sociais, fortemente presentes no Brasil, como determinantes à questão da fome. Historicamente, o país foi marcado pela concentração de terrar que acarretou as disparidades de renda entre a população. Nesse sentido, a insegurança alimentar é mantida, muitas vezes, pela ausência de recursos em muitos cidadãos e pelos altos preços associados aos alimentos. Essa realidade é ratificada por pesquisas recentes do IBGE que constataram a existência de pelo menos 2,1 milhões de domicílios em que uma pessoa passou um dia sem comer pela falta de dinheiro. É notória, portanto, a relevância de fatores econômicos e sociais na problemática supracitada. Nesse viés, cabe ao Estado, por intermédio dos órgãos responsáveis, garantir a segurança alimentar a todos os cidadãos. A ideia da medida é, a partir da criação e da expansão dos Restaurantes Populares pelas regiões carentes do país, assegurar o acesso aos alimentos pela população com menores custos financeiros envolvidos. Ademais, é dever da mídia, enquanto difusora de novos comportamentos e opiniões, expor a realidade brasileira na questão da fome, destacando as mazelas do país nesse setor. Essa intervenção deve contar com a produção de documentários e reportagens acerca do assunto a fim de fomentar o debate e a busca por soluções.