A série mexicana “Chaves”, recorrente nas telinhas brasileiras, mostra o cotidiano do protagonista – Chaves – que, por falta de condições financeiras, tem a fome como sua mais frequente companhia. Para além dos programas de entretenimento, no Brasil, esse cenário é, em grande escala, análogo, tendo em vista que, no País, o contexto vivido pelo personagem é agravado pela ineficácia das políticas públicas de combate à fome e pela carência do altruísmo nas relações sociais. Sendo assim, é, portanto, necessário atentar para esses fatores que motivam a presença desse mal em nossa sociedade. Segundo Aristóteles, em sua obra “Política”, governar é permitir aos cidadãos viverem a vida eticamente feliz alcançada. De forma divergente do pensamento aristotélico, parte da população brasileira possui pouca – ou quase nula – garantia à cidadania, pois, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 7 milhões de pessoas sofrem com a falta de alimentação diária. Destarte, mesmo que existam, em algumas regiões, restaurantes populares, criados pelo governo, que promovam alimentação a baixo custo, esses mostram-se pouco eficazes, dado que, além de ainda cobrarem taxas pelo “prato”, limitam-se a apenas uma refeição por dia. Por consequência, na luta contra a fome, não tendo como arcar com valor algum, essa população é sujeita diariamente a “pedir” ajuda aos mais afortunados – seja ela financeira ou alimentícia. Porém, na maioria dos casos, esses são simplesmente ignorados por aqueles que nunca sentiram a “dolorosa sonoridade” no estômago causada pela falta do alimento. Com isso, observa-se a exacerbada carência do altruísmo nas relações sociais atuais. Em razão disso, a lançar mão do pensamento do filósofo Epicteto, segundo o qual “Só a educação salva”, mostra-se a necessidade da intervenção educacional a respeito do sentimento de empatia acerca do próximo. Desse modo, fica evidente a imprescindibilidade de tomar medidas a fim de acabar com fatores que colaboram com a fome no Brasil. O Estado deve promover acesso à alimentação gratuita nos restaurantes populares, primordialmente, àqueles cidadãos que não possuem renda alguma por meio de cadastramentos que podem ser auxiliados por ONGs. É também preciso que escolas públicas e privadas invistam em discussões sobre a importância de ajudar e respeitar o próximo com o intuito de introduzir nas atuais e futuras gerações ideologias mais humanitárias. Assim, será possível diminuir a ocorrência de mais cidadãos nas mesmas condições socioeconômicas que o Chaves nas ruas brasileiras.