A miséria é uma produção humana e um desafio ético, dizia o sociólogo Herbert de Souza, na Assembleia da ONU em 1994. Baseado nessa afirmação nota-se que a fome foi construída historicamente, e, sua origem esteve ligada à posse da terra que, por mecanismo legal, promoveu concentração fundiária, fortalecimento de uma elite oligárquica e uma massa de ex-escravos, imigrantes e trabalhadores livres abandonados à própria sorte. Dessa forma, o resultado foi um morticínio causado pela fome nas décadas seguintes. Por isso, a questão da fome no Brasil é motivada por fatores políticos, sociais e econômicos. É preciso considerar os fatores políticos que desencadearam esse impasse. Ao mesmo tempo em que o Estado agiu em benefício de uma oligarquia criando a lei de terras no Segundo Reinado; nos governos petistas, ele criou politicas sociais que impactaram positivamente na redução da população de miseráveis. Se a atuação política no final do século XIX serviu para originar problemas como a fome, na década de 2000, essa reduziu consideravelmente, tirando o Brasil do mapa mundial da fome, segundo o relatório da ONU em 2014. Desse modo, entende-se que a atuação política é fundamental, tanto para aprofundar como para erradicar a problemática da fome. No entanto, de acordo com os dados do IBGE divulgados no mesmo ano que o relatório da ONU, são mais de sete milhões de pessoas que ainda passam fome, no Brasil. Isso se explica também pelos fatores econômicos envolvidos nesse processo, pois, a política econômica que vigora é a agroexportadora, ou seja, prioriza-se a exportação em vez de o abastecimento interno. Isso gera escassez e inflação, os produtos ficam mais caros e quem possui uma baixíssima renda tem que priorizar, excluir ou, até mesmo, não adquirir determinados produtos. Dessa maneira, constata-se que as políticas econômicas interferem diretamente na temática da fome. É preciso considerar ainda os fatores sociais que motivam a fome no Brasil, já que, segundo Karl Marx, existe uma luta de classes entre os trabalhadores e a burguesia. Essa luta ocorre em função dos interesses conflitantes das duas classes, pois, para que uma concentre renda, terras, crie monopólios e privilégios, a outra precisa perder direitos, condições de subsistência e passar fome. Constituindo, assim, o fator social um motivador da fome. Com isso, entende-se que a fome é política, econômica e social. Diante disso, é preciso que o executivo juntamente com o INCRA coloque em pauta a reforma agraria, o legislativo paute as brechas nas leis sobre a posse da terra e as corregedorias dos estados revejam todos os documentos de posse da terra, a fim de anular escrituras fraudulentas. As terras retomadas ao patrimônio público poderão ser redistribuídas aos pequenos agricultores. Além disso, o Governo Federal deve investir mais recursos na agricultura familiar, visto que, é ela que faz o abastecimento interno. Assim sendo, as desigualdades serão diminuídas, haverá desenvolvimento e o problema da fome será superado.