Título da redação:

Depressão e literatura brasileira: a herança dos ultrarromânticos

Proposta: A questão da depressão e seus impactos na sociedade

Redação enviada em 11/10/2016

“Todos o viam e passavam todos / Contudo era bem morto desde a aurora”. Em “Um cadáver de poeta”, o poeta ultrarromântico Álvares de Azevedo descreve, com magnificência singular, a principal característica de sua geração: a depressão. Insertos no século XIX, os literários desse movimento adotaram o estilo boêmio de viver; sem perspectivas futuras, tampouco a preservação da própria saúde, morriam prematuramente. Na sociedade contemporânea, tal patologia agravou-se com os avanços tecnológicos, acarretando catástrofes no que tange à manutenção do bem-estar social. Imerso nesse âmbito, infere-se que a depressão expressa suas causas por meio de um paradoxo do mundo globalizado. Conforme o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, as redes sociais são a primordial ilustração da modernidade líquida, que se configura pela superficialidade dos vínculos e fragilidade dos laços. Embasado nisso, é perceptível a contradição entre a ampliação das relações no meio virtual e a restrição dessas no meio físico, o que suscita, gradativamente, a depressão; a qual tem, como ponto de partida, o isolamento íntegro do indivíduo, ainda que este pareça estar confortado na internet. Nesse contexto, a abrangência desse fenômeno nocivo é surpreendente. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), pelo menos 350 milhões de pessoas sofrem em virtude da depressão. No Brasil, conforme levantamento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), um terço da população brasileira apresenta sintomas de depressão. Partindo disso, nota-se o impacto dessa enfermidade convergindo com o advento de novos problemas no ambiente familiar. O indivíduo, quando diagnosticado, não consegue, normalmente, o apoio necessário para superar tal empecilho, sobretudo por causa da incompreensão sobre o tema — que ainda é encarado com demasiado preconceito e, por isso, é capaz de motivar ações drásticas, como o suicídio. “Um galo sozinho não tece uma manhã / ele precisará sempre de outros galos”. Do excerto de “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto, depreende-se a importância da colaboração de um conjunto de agentes na resolução de um impasse. Destarte, compete ao Ministério da Saúde conscientizar, mediante campanhas midiáticas, a sociedade sobre as características e os sintomas da depressão; à família, por meio de atividades recreativas, incluir os parentes no convívio rotineiro e impedir o isolamento desses; ao indivíduo, por intermédio de horários programados, conciliar o tempo de navegação na rede e de confraternização no meio físico, de modo que possa divergir do estilo de vida ultrarromântico e garantir o bem-estar próprio e coletivo.