É lamentável que no Brasil, país tão etnicamente diverso, o racismo seja algo tão presente. É mais lamentável ainda que a sociedade escolha fechar os olhos para esta realidade, acreditando na polêmica teoria de Gilberto Freyre, de que existe no Brasil uma "democracia racial". Ao tomar este caminho, a sociedade não só deixa de combater tal situação como acaba sustentando-a, num cenário de violência que se mantém desde o início da história do país. É evidente que a desigualdade racial no Brasil está diretamente ligada à escravidão, que foi abolida em 1888 não por seu caráter imoral ou por indignação popular, mas por uma série de interesses de uma elite. A abolição gerou, de imediato, um dos maiores cenários de desigualdade já vistos, que relacionava raça, classe e gênero para manter, na prática, uma espécie de semi-escravidão, marcada por uma séie de violências contra o povo negro, como o caso do estupro. Como diz a filósofa Angela Davis, a escravidão se sustentava na rotina do abuso sexual tanto quanto no tronco do açoite. Dentro dos moldes de uma sociedade capitalista, uma das mais intensas relações é a da mais-valia, que, como defende Karl Marx , dá-se pela busca incessante do lucro baseada na exploração de um proletariado por parte do detentor dos meios de produção. Por nunca ter buscado superar as desigualdades advindas da escravidão, o povo brasileiro mantém a exploração capitalista em moldes similares, que colaboram com a manutenção de uma sociedade negligentemente racista, que trata os cidadãos negros com torpe desrespeito. É imprescindível que se busque superar, em primeiro plano, o olhar da sociedade para a população negra, pois, como afirma Nelson Mandela, não é apenas uma questão de raça, é uma questão de ideias. Para tanto, este olhar pode ser mudado por meio de campanhas midiáticas de empoderamento, veiculadas pelas Secretarias de Combate ao Racismo e através de maior representatividade negra nas novelas, comerciais e filmes, dada por meio de cotas afirmativas. Em seguida, é preciso combater o racismo de maneira mais direta, aumentando as penalidades presentes na lei para crimes racistas. Dessa forma, estaremso um passo à frente da tão sonhada justiça.