O antropólogo Gilberto Freyre, no fim do século XX, defendeu a tese da democracia racial brasileira, afirmando o harmônico convívio entre distintas etnias. Todavia, múltiplos autores, incluindo a ONU - Organização das Nações Unidas -, ao refletir sobre a supracitada teoria alegaram ser ela um mito, tendo em vista a persistência do racismo na sociedade, enraizado desde os primórdios escravistas. Nessa conjuntura, é válido analisar sua vigência tanto em âmbito estrutural, como institucional. É indubitável que os atos preconceituosos são visíveis cotidianamente na esfera pública, ainda que 53% da população se autoconsidere negra. Segundo Émile Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e pensar, dotada de externalidade, generalidade e coercitividade. Analogicamente ao sociólogo, é coeso inferir que o racismo está profundamente inserido no contexto atual, uma vez que, há forte repressão às tradições, crenças e costumes afro-descentes, assim como, o constante estereótipo do afro-brasileiro como indivíduo sócio carente e inferior. Dessa forma, a forte recusa nacional em aceitar suas origens negras perpetua a ideologia enaltecedora do branco colonizador, estagnando o atual panorama discriminatório. Outrossim, vale ressaltar diversos fatores externos incentivadores dessa violência étnico-moral, o que corrobora para o agravamento do impasse . No Brasil, as emissoras televisivas comumente alocam os atores negros em papéis referentes à setores marginalizados ou sócio desfavorecidos, influenciando, por conseguinte, na perspectiva pejorativa dos mesmos. Ademais, é visível o comportamento racista similar fora das mídias, por parte até dos policiais, os quais, contraditoriamente, ao invés de proteger a comunidade, agridem inúmeros jovens inocentes pela cor da pele. Destarte, casos como o de Vinícius Romão, ator acusado pela polícia por um suposto assalto apenas por ser negro, revelam a constante exposição desse ato lamentável. Evidencia-se, portanto, a necessidade iminente de coibir o impasse através da mudança do pensamento racista instaurado no país. A fim de atenuar a problemática, cabe ao Ministério da Educação intensificar as campanhas e os currículos escolares relativos ao ensino da identidade afro-brasileira, objetivando uma gradual alteração mental da sociedade. Além disso, as mídias devem tanto incrementar o elenco negro, como reverter as atuações clichês dos mesmos, assim, convém também a polícia promover treinamentos específicos, visando o combate aos preconceitos na instituição. Com isso, o mito estipulado por Freyre tornar-se-á uma verdade nacional.