Título da redação:

Brasil seja louvado

Tema de redação: A intolerância religiosa no Brasil

Redação enviada em 30/04/2015

O livro O Africano, do escritor francês Le Clézio, em seu pano de fundo, faz uma séria reflexão a respeito da diversidade cultural e a visão quase sempre eurocêntrica dos povos ocidentais frente aos orientais. Esse olhar preconceituoso é ainda hoje presente nos brasileiros. Nesse sentido, mesmo o Estado autodeclarando-se laico, ainda se vive um dilema de repúdio à outras formas de religião que fogem dos preceitos estabelecidos pelos ancestrais europeus, alavancada tanto pela população quanto pelo sistema de governo vigente. Antes de tudo, é significativo avaliar: a intolerância religiosa tem raízes, notadamente, fixadas desde o período colonial. Esse triste legado reproduz-se ainda hoje, sobretudo, diante de religiões menos difundidas pelo território nacional, como o Candomblé e a Umbanda. Em 2013, o Hotline de Direitos Humanos do governo brasileiro "Disque 100" registrou um total de 231 denúncias por discriminação religiosa, deflagrando a cruel hostilidade de muitos brasileiros. Esquecem-se essas pessoas que é essa diversidade de religiões que favorecem os mais singulares tipos de produções culturais, as quais enobrecem o contexto do patrimônio tanto material como imaterial do país. Soma-se a isso uma outra grave ferida brasileira, alicerçada na incoerente posição do Estado quanto ao exercício de sua laicidade. Isso, porque não faz sentido declarar-se um país de não sobreposição religiosa e ter estampado em sua própria moeda nacional a famigerada expressão "Deus seja louvado". Vale mencionar outras notórias e imprudentes desregulamentações no tangente ao favorecimento tradicionalista, veiculada na constituição de uma bancada evangélica no congresso brasileiro. Assim, sob o olhar quase sempre indiferente dos órgãos públicos, fomentam-se demasiadas irregularidades que norteiam o meio legislativo, executivo e judiciário. Relativamente a essa problemática, urge, por conseguinte, a promoção efetiva de propagandas educativas pelas autoridades instituídas em parceria com canais de televisão nacional, no intuito de desmistificar o conceito negativo para com crenças pouco disseminadas. Convém, ainda, reestruturar a própria esfera política, desvinculando, inicialmente, o Real dos cultos religiosos, a fim de tornar igualitário a forma como são tratadas as heterogeneidades culturais.