Na obra "O Cortiço" de Aluísio Azevedo, Bertoleza pensa ser livre após João Romão a enganar com uma falsa carta de alforria, culminando na morte da negra depois de anos de exploração gratuita. De modo semelhante, há milhares de pessoas, no Brasil, vivendo a situação de Bertoleza, mascarada e atualizada - a escravidão contemporânea. Nesse sentido, é válido analisar as causas, consequências e possível medida para atenuar esse revés. Mormente, a filosofia de Quincas Borba -humanitas- contém princípios que, conforme a explanação do personagem, considera a cooperação entre indivíduos uma forma de atender a interesses pessoais. Sob essa ótica, percebe-se o egoísmo machadiano como principal precursor da situação escravista moderna. A fim de reduzir custos operacionais, fazendeiros, principalmente, associam-se à trabalhadores impondo-lhes um regime servil extenso, trabalhos insalubres e remuneração insuficiente, coagindo financiera, física e psicologicamente o "funcionário", torando-os dependentes. Outrossim, partindo da afirmação metafísica de que todo ser caminha para a consumação de sua natureza, Aristóteles defende que o fim do homem é sua realização plena. Antagônico à esse pensamento, a permanência da escravidão brasileira atual fere esse ideal aristotélico, uma vez que o escravo moderno é impedido de evoluir social e cognitivamente, de constituir família -direito natural; sendo, portanto incapaz de cumprir seu fim e retrocedendo à conquista de direitos. Torna-se evidente, então, que a escravidão contemporânea representa entraves para a consolidação de um Brasil melhor. Nesse contexto, cabe ao Poder Executivo Federal, por meio da força militar, investir na fiscalização regular de fazendas e aglomerados rurais, com operações de investigação e salvamentos. Espera-se. com isso, tornar possível o desenvolvimento de pessoas aprisionadas, devolvendo-as a possibilidade de realizar seu fim aristotélico.