Em Casa-Grande & Senzala, Gilberto Freyre enuncia a sistematicidade do tratado colonial e como as suas características enraizaram-se no povo brasileiro, sendo responsáveis por sua formação social. O Brasil do século XXI ainda possui traços do sistema escravocrata e patriarcal que imperou durante tantos séculos, constituindo uma sociedade marcada por relações hierárquicas com forte teor subalterno. Inicialmente, faz-se necessário entender que a Lei Áurea não foi suficiente para acabar com a prática escravista no Brasil Colonial, visto que essas relações específicas perduram até os dias atuais. Assim sendo, é possível afirmar que o trabalho realizado pelos imigrantes nas lavouras cafeeiras caracteriza-se como um trabalho escravo, eram submetidos a jornadas longas e exaustivas, condenados a pagarem uma dívida infinda aos barões de café. Além disso, a Revolução Industrial introduziu um novo conceito de trabalho forçado, novamente reforçando relações de submissão em um cenário de condições degradantes. Dessa forma, o conceito de escravidão, apesar de ser sempre renovado com a inserção de novos personagens em épocas e visões diferentes, sua fundamentação é sempre a mesma: relações hierárquicas passíveis de serem denominadas como uma relação entre o dono e a sua propriedade. De acordo com Darcy Ribeiro, “O Brasil tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a classe dominante enferma de desigualdade, de descaso”. Sendo um dos últimos países a acabarem com a escravidão, observa-se na frase do autor que a prática escravista caracteriza-se, principalmente, pela visão deformada do outro, ele está ali somente para servir e por isso não pode ser considerado como um cidadão. Diante disso, faz-se importante reforçar a noção de que tornar alguém escravo é um atentado a dignidade humana, indo além as infrações cometidas as condições de vidas submetidas. É indubitável que a problemática da escravidão ainda se faz presente no Brasil contemporâneo, uma prática que remonta desde a época Colonial e possui noções enraizadas devido a implantação desse sistema. Portanto, a Receita Federal deve direcionar uma maior quantidade de impostos a Secretaria de Inspeção do trabalho, com o intuito de financiar a fiscalização do trabalho escravo, garantindo que essa prática ilegal torne-se extinta e haja o resgate de um maior número de cidadãos submetidos a essas condições.