Há 130 anos, a escravidão foi definitivamente abolida no Brasil. A Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 1888, buscava extinguir essa prática que conduziu a entrada de aproximadamente 5 milhões de escravos africanos no território brasileiro. No entanto, o trabalho escravo, que não foi completamente extinto na sociedade brasileira, se apresenta nos dias atuais com outras “faces”, como por meio da retenção das documentações pessoais do trabalhador e restrição do transporte a fim de que o indivíduo não saia do local de trabalho. Dessa forma, a continuação da prática escravista gera diversos efeitos no Brasil, entre eles, encontram-se o aumento do trabalho infantil e a vulnerabilidade econômica apresentada pelos trabalhadores libertos. É importante pontuar de início que a maioria das vítimas do trabalho escravista entrou nessa realidade quando crianças. Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, todo indivíduo com menos de 18 anos é considerado criança. Diante disso, a falta de condição econômica por parte da família ou por ela já está inclusa no trabalho escravista, colabora para que muitas crianças adentrem nessa prática. Ademais, uma pesquisa promovida pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), dos 121 entrevistados que foram libertos do trabalho escravo entre 2006 e 2007, 69% começaram no trabalho infantil por causa do âmbito familiar, sendo que 10% trabalhavam com a família. Nesse sentido, o desempenho escolar é prejudicado, dado que, em muitos casos, a criança nem teve acesso à educação, levando ao abandono dos estudos e, consequentemente, a um futuro sem qualificação profissional. Outrossim, um outro efeito do trabalho escravo é a vulnerabilidade econômica que os funcionários resgatados encontram no mercado de trabalho. Com isso, pelo fato de muitos possuírem uma escolaridade defeituosa ou a ausência dela, ao entrarem no mercado de trabalho, encontram dificuldade para serem contratados e, com isso, há falta de condição econômica para o seu próprio sustento ou o da família. Em tal caso, pela ausência de oferta de emprego e pela necessidade econômica, o indivíduo fica sujeito a retornar ao trabalho escravo. Além disso, situações como essa propiciam a formação de um círculo vicioso, promovendo a entrada de muitas crianças, provenientes desse ambiente familiar, no trabalho infantil, para colaborar com a renda familiar e, posteriormente, no trabalho escravo, resultado da falta de educação e ausência de conhecimentos sobre seus direitos, negados a ela durante a sua trajetória de vida. À vista disso, é reconhecível a existência da escravidão contemporânea e os seus efeitos no Brasil. Dessa maneira, é importante a formação de uma parceria do Governo Federal com a mídia para que propagandas informacionais sobre as características e causas do trabalho escravo nos dias atuais circulem por meio de emissoras de televisão, redes sociais e outdoors nas principais vias de circulação das cidades, promovendo a conscientização da população e impedindo que mais pessoas sejam enganadas. Ademais, é necessário que o Governo reprima mais fortemente a prática do trabalho escravo, como por meio de punições mais severas aos patrões escravistas, por intermédio do confisco de suas propriedades e estabelecimentos comerciais, e também, por meio de indenizações, aos trabalhadores escravos, devido à violação de seus direitos humanos.