O conceito de escravidão há muito não se limita ao trabalho exercido nas senzalas. Esta mazela social ganhou novos contornos e, com eles, outras razões para perpetuação reproduzidas, inclusive, no Brasil. Destaca-se, em primeiro lugar, o abismo existente entre as tutelas jurídicas e a realidade. A escravidão contemporânea é mencionada em importantes documentos, tais como a Convenção da Organização Internacional do Trabalho e o Código Penal Brasileiro. No entanto, estima-se que mais de 160 mil pessoas ainda sejam mantidas em condições análogas às de escravos no país. Assim, por mais protetivas que sejam, falta efetividade às normas. Além disso, há que se mencionar a lógica socioeconômica vigente. De um lado, pretende privilegiar a vida humana. De outro, exclui indivíduos sempre que conveniente. Recentemente descobriu-se que uma marca de roupas de luxo brasileira mantinha trabalhadores têxteis em situação de escravidão. Certamente tal fato não teria ocorrido com os empregados "visíveis ao público", como vendedores e gerentes. Neste sentido, a gana pelo lucro subverte as mais básicas liberdades e garantias individuais. Em suma, a escravidão é problema grave a ser sanado no Brasil. Aumentar a fiscalização de indústrias e estabelecimentos com alto índice de trabalho escravo (setor têxtil e de construção civil, por exemplo), aliado à cominação de multas maisseveras a pessoas físicas e jurídicas responsáveis é o primeiro passo para mudar este lamentável cenário no país. Uma sociedade que se pretenda contemporânea não pode retroceder à velha sistemática escravista.