Durante o período colonial e imperial o trabalho escravo era a base da economia brasileira. Nesse sentido, mesmo após a abolição desse tipo de trabalho em 1888, com a promulgação da Lei Áurea, ele persiste de maneira "oculta" na sociedade, comprometendo a dignidade humana de milhares de brasileiros no século XXI, seja pela cruel lógica capitalista, seja pela inépcia do Estado no que concerne ao seu combate. Segundo o sociólogo Karl Marx, o sistema capitalista coisifica o homem, ou seja, transforma-o em um mero instrumento usado para a obtenção de lucro. Partindo dessa premissa, muitos empregadores se aproveitam da vulnerabilidade socioeconômica dos indivíduos, e os colocam em condições degradantes de trabalho, marcadas por jornadas exaustivas em ambientes sem segurança e conforto. Essa coercitividade causada principalmente pelo medo, gerado por ameaças, e pela necessidade financeira, estimula a manutenção da exclusão social, uma vez que priva o trabalhador de buscar uma melhor condição social, ora pela educação, ora pela procura de outro emprego. Outrossim, vale salientar que a negligência estatal no que concerne ao combate à essa intempérie é evidente em uma democracia que deveria atender aos interesses do povo. Um exemplo dessa contradição está contida na recente aprovação da Reforma Trabalhista pelo Senado, visto que ela dificulta ainda mais o acesso à Justiça gratuita, determinando que o trabalhador arque sozinho com as despesas judiciais de qualquer processo trabalhista, representando um retrocesso no que diz respeito ao combate à impunidade. Somado a isso, o fato de que a maioria dos brasileiros ainda acredita que o trabalho escravo acabou em 1888, o que pode ser explicado pela inexistência do debate acerca dessa problemática na mídia, impulsiona a presença de um pequeno número de registros de denúncias, o que associado à baixa frequência das fiscalizações , ratifica a gravidade dessa mácula social. Diante disso, fica claro, portanto, que a escravidão contemporânea constitui um terrível empecilho que viola a dignidade humana como um todo, e permite a permanência da desigualdade social e econômica. Logo, urge que o Ministério do Trabalho, juntamente com ONG's e centros educacionais, ofereça cursos técnicos profissionalizantes em regiões carentes, com o fito de qualificar essa população e lhe oferecer melhores oportunidades de emprego. Ademais, é imprescindível que o Governo Federal ,em parceria com os veículos de comunicação, elabore campanhas educativas e diálogos em ficções engajadas que incentivem a população a denunciar qualquer tipo de exploração no âmbito laboral, inclusive possíveis irregularidades nas fiscalizações, como omissão e corrupção. Além disso, compete ao Poder Judiciário revisar a nova reforma trabalhista, a fim de que ela ampare legalmente as necessidades dos trabalhadores, garantindo a igualdade jurídica trabalhista prevista na Constituição de 1988. Somente assim, qualquer trabalho análogo ao escravo irá minimizar-se no país.