A doação de órgãos representa, para muitos pacientes, seja em estado terminal, seja para os que apenas querem enxergar melhor, um último lampejo de esperança. A importância desse gesto é um fato sabido em toda a sociedade, mas alguns problemas como a falta de comunicação prévia entre a família e o então falecido, a recusa dos parentes e o respeito exacerbado à figura do cadáver impõem obstáculos para que esta luz no fim do túnel chegue até seus destinatários. O medo da morte faz com que as pessoas não se preocupem tanto com ela de forma que se torna muito mais cômodo não pensar nas consequências quando este momento chegar. Ocorre que, quando não se toma decisões e não há uma comunicação enquanto vivo, o encargo de decidir a respeito de doar ou não os órgãos fica por conta da família, que pode não concordar em dispor. Nosso país dispõe de estrutura suficiente para realizar transplantes das mais diversas formas, de modo que uma só pessoa pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de até vinte destinatários. Contudo, o motivo preponderante para os baixos índices de doação de órgãos – menos da metade entre os pacientes que incorreram em morte encefálica – continua sendo a recusa dos familiares que, em muitos casos, julgam ser uma falta de respeito com o falecido, atribuindo um caráter inviolável a um organismo que não é mais funcional. De posse desses fatos, o governo federal, através do Ministério da Saúde, deveria intensificar o investimento em publicidade para a conscientização coletiva a respeito do tema que é de suma importância na seara da saúde pública. O estímulo à doação através de campanhas iria reduzir em larga escala o nível de desinformação e aumentar exponencialmente o contingente de doadores. A informação aliada à declaração expressa em vida é um caminho que pode salvar milhares de crianças, adultos e idosos com o gesto mais gratificante da vida: ajudar quem precisa.