Título da redação:

Doa a ação

Tema de redação: A doação de órgãos no Brasil e seus principais desafios

Redação enviada em 21/08/2017

A doação de órgãos foi um dos mais expressivos inventos da medicina do século XX, de tal forma que que, daí em diante, componentes defasados do organismo poderiam ser substituídos por outros saudáveis. Em consonância a isso, a contemporaneidade brasileira é marcada por consideráveis campanhas de rua e televisivas com intuito de persuadir o público a aderir à causa. No entanto, a existência de mitos do senso comum e a falibilidade do mecanismo principal de auto-declaração como doador - o aviso à família - ainda são empecilhos para que se flua a longa fila de espera daqueles que aguardam, incessantemente, por um transplante. "Aja de modo com que a máxima de sua ação possa ser válida para todos os indivíduos". Essa premissa do "Imperativo Categórico" de Immanuel Kant tem o objetivo de pontuar que o sujeito ético é aquele que é capaz de se colocar no lugar de seu semelhante. Contudo, a existência de preconceitos fundamentados em crenças típicas do senso comum inibe, a certo modo, a consolidação da cultura da consciência coletiva no país, fato esse constatado nas desculpas rotineiras em argumentação pela não doação de órgãos que, em grande parte das vezes, expressam o egoísmo e o apego platônico à integridade corporal, mesmo em tempo posterior ao óbito. Por outro lado, é cabível afirmar que a informalidade dos mecanismos de auto-intitulação como cidadão adepto ao reaproveitamento dos próprios órgãos ainda resulta com que elevada parcela dos doadores faleçam sem que a equipe médica esteja ciente de tal decisão. Isso ocorre pois o transplante somente acontece perante aprovação da família do doador falecido para a retirada de componentes do organismo. Destarte, a decisão pela doação acaba assumindo um caráter familista, suprimindo, com efeito, a vontade real manifestada, a priori, pelo doador em vida. Portanto, visando a instituir o legado nacional de Brasil enquanto pátria sustentavelmente doadora, cabe à assembleia legislativa nacional a formulação de um projeto de lei que formalize os meios de auto-declaração de doadores, de maneira a elaborar um cadastro virtual contendo informações de cada cidadão interessado em doar peças de seu organismo após o óbito. Ademais, é dever das secretarias públicas realizar visitas em domicílios com o objetivo de dialogar com famílias e fomentar a conscientização em massa para as questões tangentes à transplantação no país, rompendo, por conseguinte, com paradigmas e mitos conjugados ao senso comum. Como discursou São Paulo aos habitantes de Corinto: "tudo sofre, crê, espera e suporta: a caridade jamais acabará."