Título da redação:

A negligência no consumo: aprendendo a gerenciar com Mr. Banks.

Proposta: A deficiente educação financeira no Brasil

Redação enviada em 23/09/2016

A literatura tem um viés de categorizar ações ou costumes da sociedade a qual ela pertence. Em meados dos anos 30, a autora Pamela L. Travers escreveu o livro infantil “Mary Poppins”, cujo enredo se resume a uma babá encantada que chega para botar ordem na casa da família Banks. O pai, Mr. Banks, é um classico detentor do capital, e ensina a seus filhos o valor do dinheiro e a importância de gerenciar sua fortuna. Podemos fazer uma comparação da época do Mr. Banks com os dias atuais. Em 1930, em plena ascensão do capitalismo, quem possuia uma fortuna prezava por gerenciá-la corretamente, pois a disseminação do capital e a construção dos alicerces liberais garantia aos bons gerenciadores uma vida plena e sadia, de acordo com o “american dream”, o famoso sonho americano, que consiste num ideal de oportunidades, liberdade e independência pessoal. Atualmente, entretanto, esses valores foram substituidos por um comportamento consumista e negligente. O sonho americano foi incorporado num sistema compulsivo de consumo desenfreado, e com a globalização, esse sistema espalhou-se para o mundo todo. O Brasil, por exemplo, possui hoje altos índices de contas estouradas e dívidas da população para com o governo ou bancos. De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 85% dos brasileiros fazem compras sem planejar seus gastos. Isso significa que apenas 15% da população mede o que compra no mês, e não se deixa levar por impulsos. Outro ponto importante é a relação entre o estado emocional da pessoa e o consumo. É costumeiro sentirmos o desejo de comprar quando estamos passando por um momento de ansiedade ou estresse. A sensação de ter uma roupa ou um acessório novo traz um ar revigorante, e essa sensação acaba por substituir qualquer remorso ou preocupação por ter gastado o que não deveria. Esses hábitos são observados principalmente nas classes C e D, visto que são as parcelas da sociedade que mais consomem, de acordo com pesquisa publicada pelo jornal El País. Dado o exposto, é evidente que o cidadão brasileiro necessita de um incentivo para controlar seus gastos. Esse incentivo pode começar de cima, pois é interesse do Estado que seu povo esteja em dia com as contas, para estimular o consumo consciente e conseguir manter os juros baixos e o crédito acessível, bem como é interesse das empresas, pois créditos dificultados e juros exorbitantes culminam em baixo consumo. Ao indivíduo, cabe apenas a percepção de que o consumo compulsivo traz consequências financeiras. Se até os filhos do Mr. Banks aprenderam a gerenciar o dinheiro, também somos capazes de aprender.