Título da redação:

Inversão de papeis

Proposta: A cultura de estupro no Brasil

Redação enviada em 01/07/2017

Na obra “O segundo sexo”, Simone Beauvoir expõe a questão da formação da identidade feminina na sociedade, na qual a mulher possui seu papel previamente definido pelo meio em que está inserida. Hodiernamente, quase 70 anos após a publicação da obra, o pensamento machista e sexista retratado pela filósofa ainda está presente na sociedade. Nesse cenário, a violência sexual contra mulheres e a cultura do estupro tornou-se um grave problema social na sociedade brasileira, sendo esses reflexos de um país fundado sob bases patriarcais, onde a vítima torna-se culpada e o agressor fica impune. Sob essa conjectura, ao analisar os dados do Datafolha, os quais apontam que 33% da população brasileira considera a mulher culpada pelo estupro, infere-se que o machismo é o principal agente que induz a essa inversão de papeis, onde a vítima torna-se o criminoso. Nesse sentido, a roupa decotada ou o local frequentado pela vítima são usados como argumentos para justificar a violência sexual, transferindo a culpa para aquela que deveria ser amparada. Desse modo, o fato de uma mulher não se portar de maneira como a sociedade impõe “bela, recatada e do lar”, torna-se o aval para que o assédio seja normalizado. Outrossim, a impunidade daqueles que cometem tal ato é um agravante . Segundo dados do IPEA, anualmente são mais 500 mil tentativas e casos de estupro, desses apenas 10% são registrados. As disparidades ente os números dá-se devido a dois fatores primordiais. Em primeiro lugar, o atendimento desumano e humilhante que vítima recebe pelos profissionais da lei que reproduzem o pensamento machista, sendo dever da vítima provar que a violação sexual realmente ocorreu de forma não consensual. Em segundo lugar, a sensação de insegurança e impunidade gerada pelas penas brandas e a lentidão do processo, corrobora para que o número de denúncias não seja crescente. Destarte, urge que haja mudanças não apenas no âmbito jurídico, mas principalmente na sociedade e a forma como essa assiste a mulher. Para tanto, cabe ao Legislativo à criação de leis com punições mais severas e eficientes. Dessa forma, diminuindo a impunidade. Ademais, a capacitação de profissionais da lei para o atendimento humanizado das vítimas, tornará a denúncia, um processo menos doloroso contribuindo para que a mulher seja tratada como vítima não como culpada. Por fim, as instituições escolares e a mídia devem promover o debate sobe a problemática a fim de a sociedade transcender as barreiras do pensamento machista.