Título da redação:

A persistência do medo

Proposta: A cultura de estupro no Brasil

Redação enviada em 14/08/2016

O estupro no Brasil não é algo recente. Jorge Amado, em sua obra "Capitães da Areia", de 1937, retrata uma cena onde o protagonista -do sexo masculino- estupra uma menina. A cena revela, hoje, dois preocupantes pontos sobre o assunto. O primeiro é o fato de que, apesar de ocorrer há muito tempo, o estupro ainda acontece com frequência, evidenciando a ineficiência ao combate a este tipo de crime. O segundo é a naturalidade com que o personagem trata a situação, revelando uma cultura patriarcal que persiste até hoje. A sociedade machista cria imagens deturpadas da mulher e de sua função. Desde pequenas as mulheres são educadas para serem boas mães e esposas, o que não é ruim, desde que se entenda que isso não as torna submissas ao homem, e que ele também deve ser um bom pai e esposo, o que não é disseminado pelo patriarcado. A ideia de que a mulher é um objeto sexual é um dos motivos para que o estupro ainda exista, sendo que 70% são vítimas de pessoas próximas. Paralela à comum ideia de que a mulher é "inferior", tem-se o medo e a Justiça como fatores que dificultam o combate à abusos sexuais. O medo do estuprador, o sentimento de impotência e a vergonha fazem com que muitas mulheres não denunciem os casos. Além disso, quando o caso chega à delegacia, a vítima é constrangida com questionamentos descabidos sobre "as roupas que usava" no momento do crime. O filósofo Foucault acreditava que a vigilância é mais eficaz do que a punição, afinal antecede qualquer crime ou delito. Sob a luz do filósofo, entende-se vigilância, neste caso, como educação por parte da Escola, do Governo e da Família, evitando assim a naturalização do estupro, a prática de atos libidinosos e, consequentemente, punições. Se a vigilância falha, a punição não pode falhar: a necessidade de melhorias no sistema judicial é urgente, as denúncias devem ser tratadas com seriedade e respeito à vítima.