Título da redação:

A cultura da irracionalidade

Tema de redação: A cultura de estupro no Brasil

Redação enviada em 24/06/2016

O Brasil herdou de suas origens de colonização exploratória e escravocrata uma visão patriarcalista da realidade. A mulher é sempre subjugada, considerada inferior e a ela são atribuídas as funções da casa e o cuidado com os filhos. Os séculos de desigualdade de gênero não só refletem na objetificação do sexo feminino, mas na extrema violência sofrida por ele durante todo esse tempo e que permanece constante e presente no século XXI. O estupro é um dos crimes mais comuns no Brasil. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, somente 10% dos casos são realmente notificados. Estes correspondem a 50 mil de um possível total de 500 mil casos. A maioria deles está atribuída à violência sofrida em casa, por parentes e amigos da família. O silêncio e a vergonha – que desmotivam a denúncia – são mediados pelo julgamento da sociedade, que insiste em colocar a culpa do crime na mulher. O reflexo de uma cultura discriminatória e de evidente segregação de gênero é a impotência da parcela feminina mediante seus possíveis e reais agressores, que, em 99% dos casos, saem ilesos, sem punição adequada e justa. A objetificação da mulher está estampada na mídia. As propagandas sempre retratam o sexo feminino com pouca roupa, quase sem falas e que nunca diz “não” às investidas dos homens. Essa prática só serve para enfatizar o discurso de desigualdade, colocando o gênero feminino como prêmio a ser conquistado, suprimindo o sentido de humanidade, essencial para que quaisquer relações se deem com respeito. A zoomorfização do homem, como “animal indomável”, reitera a justificativa de que o gênero masculino não é culpado por suas ações uma vez que não consegue controlá-las. A cultura do estupro é, portanto, uma realidade no Brasil. As origens patriarcais e machistas se refletem na segregação da mulher e na sua submissão ao homem. O estupro é a materialização da irracionalidade humana, que é capaz de justificar esse crime colocando a culpa na vítima. Visto que tal não recebe as punições devidas, na maioria dos casos, é essencial a produção de leis mais rigorosas pelo Poder Legislativo quanto à condenação e à investigação dos casos, como seu cumprimento através da ação policial. Faz-se também necessária a discussão de gênero e de sexo nas escolas, produzindo uma reflexão entre alunos e professores quanto à igualdade e ao respeito, formando cidadãos que repudiam o culto a qualquer tipo de violência.