Título da redação:

Leiga enfermidade

Proposta: A banalização do diagnóstico de TDAH

Redação enviada em 28/02/2018

Leiga enfermidade Para o literato alemão Goethe, “nada no mundo é mais assustador do que a ignorância em ação”. Sob essa ótica, no cenário brasileiro, aumentaram-se os diagnósticos do TDAH - Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade –, principalmente em crianças e adolescentes. Contudo, são perceptíveis banalizações leigas desse estado doentio, seja pela falta de referências claras acerca da doença, seja pela comodidade dos responsáveis. Conforme analisou o psicólogo suíço Jean Piaget, umas das características observadas no infante de dois aos sete anos de idade são: resistência às restrições à sua liberdade de agir e oposições em ter a satisfação de seus desejos adiada. Por essa análise, sintomas do TDAH como distrações e hiperatividade podem, no decorrer da infância, passar despercebidos e serem interpretados como o comportamento padrão dessa faixa etária, o que dificulta o processo de diagnóstico e tratamento. Entretanto, historicamente, no ano de 1904, o Rio de Janeiro tornou-se palco de revoltas populares por conta das vacinas contra a varíola, as quais foram impostas aos habitantes sem que eles tivessem o conhecimento dos seus benefícios. De modo análogo, a necessidade desse discernimento é fundamental para que se evitem graves incompreensões, pois, de acordo com uma matéria no jornal “O Estado de São Paulo”, medicamento para o distúrbio TDAH, como a Ritalina, tem sido consumido de modo exagerado. Nesse contexto, jovens que sofrem com sintomas dessa doença são medicados pelos pais – que são motivados pela facilidade de obter essas drogas sem alguma análise médica. Ademais, o Brasil carrega consigo uma cultura de automedicação, vista pelas frequentes visitas nas farmácias ao invés dos centros de saúde. Todavia, o regalo do caminho mais curto, citado caso análogo, zomba da saúde, além de revelar efeitos colaterais que podem levar essas crianças e adolescentes à morte. Transfiguram-se, portanto, a urgência de promover o conhecimento do TDAH e acabar com suas banalizações. Urge que o Ministério da Saúde distribua cartões informativos nas residências e locais comunitários, apresentando os sintomas do TDAH e suas formas de tratamento, meio para induzir a observação crítica da doença dos pais aos jovens, e dos adultos a si próprio. Somada a essa intervenção, é importante que o Ministério da Saúde proíba a venda de boa parte dos remédios sem que estejam diante de ordens médicas, com intuito de evitar consequências desastrosas do consumo indevido e estimular a ida às consultas. Outrossim, as escolas, com apoio do Ministério da Educação e investimentos governamentais, devem inserir profissionais especializados para trabalharem com crianças e adolescentes portadores de TDAH, além de promoverem atividades diferenciadas que estimulem o seu aprendizado ao longo do horário escolar. Só assim, em consonância a Goethe, a ignorância nas ações deixará de prevalecer e, nesse caso, tornar-se-ão lúcidas as enfermidades silenciosas.