A Declaração Universal dos Direitos Humanos - promulgada pela ONU, em 1948 - assegura a todos os direitos à vida e ao bem-estar. Entretanto, observa-se que, no Brasil, os processos que versam a respeito dos mecanismos de combate aos trotes abusivos nas universidades ainda são repletos de carências a serem superadas. Nessa perspectiva, a conservação dessa atuação insuficiente é refletida em um cenário desafiador para um Estado Democrático de Direito, seja pela existência de uma cultura de humilhação na comunidade acadêmica brasileira, seja pela impunidade vigente nesse espaço. Deve-se pontuar, inicialmente, que muitas pessoas modificam suas ações comportamentais para que sejam aceitas socialmente. No entanto, essas modificações implicam em uma perda de identidade por parte desses indivíduos, muito pelo medo dos julgamentos exercidos pelo meio em que estão inseridos. Nessa lógica, o filósofo francês Michel Foucault analisa que as relações de poder estão presentes nas próprias relações sociais, de maneira que, nesse contexto, há um processo de coerção, realizado pelos veteranos sobre os calouros, visando o estabelecimento e a garantia da do vínculo hierárquico nos trotes, fato que possibilita o surgimento de casos de humilhações aos novatos. Vale ressaltar, também, que a impunidade vigorante nesse meio reforça a ocorrência desses trotes abusivos. Nesse sentido, as universidades precisam ser cobradas e punidas quando houver incidentes dessa orientação, pois tais instituições adotam uma postura permissiva e políticas de segurança frágeis, haja vista o evento em que um estudante de medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 1999, acabou morrendo em decorrência dessas brincadeiras que, muitas vezes, são nocivas à dignidade humana. Logo, revela-se a necessidade de alteração do modelo de atuação do Estado perante o meio acadêmico brasileiro, Infere-se, portanto, que, diante da urgência de se reverter esse quadro, o Ministério da Educação precisa exigir das universidade maior participação e efetividade no controle dos trotes referentes aos alunos dessas instituições, de forma que haja maior rigorosidade no tratamento desses incidentes. Isso pode ser realizado por meio da criação ou da ampliação de postos de atendimento aos calouros afetados nesses eventos, de modo que seja aplicado medidas que promovam a justiça e a ordem do meio acadêmico, para que, assim, se possa almejar um cenário de valorização e de garantia dos direitos humanos na sociedade brasileira.