Título da redação:

Qual é o limite?

Tema de redação: Trotes universitários

Redação enviada em 08/04/2015

O trote mancha a ética universitária. Nele surge o fascismo que jaz nas camadas urbanas. País que viveu o século anterior sob tiranias, o Brasil ainda não se adequou ao convívio sob a lei. Getúlio Vargas, com polícia e censura unidas à propaganda do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), e o regime de 1964, com suas câmaras de tortura aliadas aos censores da imprensa, muito fizeram para corroer o caráter dos governados. Como o poder oposto à democracia tem origem direta na força não mediada por ordens jurídicas liberais, parte da sociedade nele enxerga a única forma correta de existência. A passagem do ensino médio para o ensino superior é marcada por alegrias e dúvidas. A aprovação em uma universidade é para os estudantes a porta para um novo mundo, de liberdade, independência e ao mesmo tempo de responsabilidades. Como ritual de passagem do ensino médio para o superior, os conhecidos trotes são muitas vezes desejados pelos alunos. São brincadeiras que a princípio deveriam promover a integração e socialização; uma forma de fazer o calouro se sentir acolhido. Entretanto nem sempre essas brincadeiras têm o limite certo, acabando por frustrar e traumatizar alunos brilhantes sem necessidade. Naturalmente, quando se pensa em trote, chega-se à mente a visão de calouros indefesos sendo obrigados por veteranos malvados a fazer os mais variados tipos de atividades: desde segurar um pênis de borracha imitando a estátua da liberdade no meio do campus da faculdade até arrecadar dinheiro no sinal para os veteranos. Associam-se a isso algumas doses de bebidas alcoólicas, às vezes entorpecentes e assim adolescentes concretizam seu rito de passagem dolorosamente. Esse quadro é real e mais comum do que se imagina. Além de ser caracterizado por um ciclo vicioso em que cada veterano deseja vingar-se do trote que já sofreu um dia é impossível saber exatamente qual será o ponto final para a brincadeira acabar. Casos de estudantes mortos, violentados e humilhados não são só prejuízos para alunos mas também para instituições que perdem autoridade ao intervir tardiamente. Pensando nessa intervenção, muitas instituições públicas de ensino superior criaram um novo tipo de trote, o trote solidário. Este não é garantia de que fora do campus haverá respeito e solidariedade com os calouros, porém é uma forma de integrar os alunos dentro da instituição e fazê-los permanecer grande parte do tempo ocupados em ajudar e apresentar a faculdade aos calouros indefesos. É evidente que tinta não vai faltar, mas há instituições que fazem doação de cestas básicas para ONGS como trote. Esse sim com uma conseqüência mais leve e bem mais humana. Pensando assim, fica mais fácil para as futuras gerações de veteranos, que sofreram um trote mais saudável, agir saudavelmente com os futuros calouros.