Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o ser humano busca construir uma identidade de forma a se enquadrar num grupo social. Por conseguinte, é indubitável que ao longo dos séculos o homem atribuiu diferentes significados ao uso das tatuagens, sendo muitas vezes associadas à aceitação em determinadas tribos ou mesmo para demarcar momentos importantes da vida do indivíduo. No entanto, com o advento da modernidade as tatuagens passaram a ser vistas de diferentes formas, tanto positivas quanto negativas. Nessa perspectiva, é impreterível a necessidade de buscar maneiras de quebrar o tabu criado ao redor desse tema, prezando pela valorização da arte e do corpo. A princípio, cabe ressaltar que a cultura das tatuagens não é algo recente, pois de acordo com cientistas britânicos é perceptível o registro dessa manifestação artística em corpos mumificados do Antigo Egito, sendo comum esse tipo de prática naquela civilização. Com o passar dos séculos, a tatuagem alcançou diferentes significados até chegar no conceito marginalizado das prisões, quando ganhou um caráter depreciativo devido ao fato de muitos detentos as usarem para identificação de gangues, seguindo também o conceito de Bourdieu sobre a identidade. Infelizmente, essa associação acabou por mistificar o uso dessas, tornando a arte na pele uma ameaça à integridade do corpo e do modelo social desejado em muitas comunidades. Além disso, é visível a significação atrelada a essa manifestação em diferentes setores sociais, sendo para alguns uma forma de arte e para outros um “modismo” restrito aos jovens. Independente da forma vista, o preconceito está presente principalmente no mercado de trabalho brasileiro, em que dependendo da área de atuação ou da empresa, uma pessoa tatuada é desclassificada para uma possível vaga. Dessa forma, é observável um problema conspícuo que deve ser desmistificado e combatido ao máximo. Infere-se, portanto, a necessidade de uma intervenção cultural para mitigar essa problemática. Para isso, é de suma importância que o Ministério da Cultura, em parceria com estúdios de tatuagem e ONGs, busque criar um projeto que incentive a valorização das diferentes manifestações artísticas com enfoque nas tatuagens, levando o trabalho de tatuadores para as ruas com o fito de mostrar a beleza e a importância cultural dessas. Ademais, cabe ao Ministério do Trabalho criar emendas trabalhistas que protejam o trabalhador tatuado, de forma a garantir direitos iguais independente de aparência e preconceitos, prezando assim por um país mais justo e democrático.