Título da redação:

A arte de marcar o corpo.

Tema de redação: Tatuagem: modismo ou formação de identidade

Redação enviada em 14/10/2016

A arte de marcar o corpo com tatuagens vem de muitos séculos atrás, mas não se tem o registro exato do surgimento dessa prática. Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa tatuagem é “o processo de introduzir debaixo da epiderme substâncias corantes, vegetais ou minerais, para apresentar na pele desenhos e pinturas”. Com o passar dos anos, antropólogos e arqueólogos vêm encontrando cada vez mais múmias e cada vez mais antigas com registro de tatuagens espalhadas pelo corpo; algumas com até 5.000 anos de existência. Acredita-se que elas simbolizavam o diagnóstico ou tratamento de problemas de saúde como dor lombar e doença articular degenerativa dos joelhos, tornozelo e punho. De acordo com Ismara Tasso e Pedro Navarro (2012), “arqueologicamente, as marcas no corpo poderiam significar as cicatrizes da supremacia de um povo sobre outro, dos rituais dos fatos da vida biológica (nascimento, puberdade, casamento), de pertença a determinados grupos, de efeitos religiosos e de poder sobre o próprio corpo aliado ao biopoder que envolve uma política de vigilância sanitária – no caso do corpo tatuado que necessita, nos tempos atuais, de agulhas esterilizadas para marcar seus corpos”. A era pré-histórica já continha vestígios da existência de povos que cobriam o corpo com desenhos. Existe uma hipótese de que as tatuagens tiveram sua origem com marcas de cicatrizes adquiridas em guerras, lutas corporais e caças. Essas cicatrizes eram motivo de orgulho e reconhecimento ao homem que as possuísse, pois representavam força e vitória. Ao longo dos anos, essa prática ficou conhecida como “escarnificação” (do inglês scarification), que consiste em cortar-se com algum objeto afiado e esperar cicatrizar no formato do corte. Por mais que essa técnica seja vista como agressiva, é uma das mais antigas com origem das tribos aborígenas na Austrália. A partir da ideia de que essas marcas eram sinônimo de vitalidade, o homem passou a marcar-se voluntariamente e com o tempo as cicatrizes sem sentido aparente deram lugar a criação de desenhos com o uso de tintas vegetais e espinhos para introduzi-las à pele. Se antigamente a prática de marcar o corpo era tida como diferencial de algo (religião, tribo, inimizade), atualmente, o intuito é mais para expressar a personalidade, uma marca particular do indivíduo. Além de ser extremamente importante para a história da humanidade, a arte de marcar a pele influencia, de certa forma, no turismo. Na Nova Zelândia existe um grande fluxo de turistas todo ano que buscam o conhecimento da tatuagem maori; muitos deles têm como objetivo fazer essa arte em seu local de origem. As tatuagens maori são representações diretas da civilização de mesmo nome e elas não eram usadas para arte corporal ou estética, mas sim para contar a história de cada membro específico da tribo; cada tatuagem dessa era única para cada pessoa. Essa busca pela cultura de outros povos é vista de uma maneira positiva que impede a economia local de estagnar. No começo das tatuagens existia um público específico que marcava a pele, que eram os verdadeiros entusiastas pelo tema, como punks e o público underground. Atualmente, não existe distinção entre quem faz parte dessa prática e quem não faz. As pessoas costumam levar suas famílias inteiras para eventos com o tema, incluindo as crianças e, geralmente, buscam aprender um pouco sobre aquilo que não conhecem. “Com a popularização da tatuagem, o profissional acaba recebendo um público ao qual não estava acostumado. Hoje, é mais difícil encontrar pessoas sem tatuagem do que com tatuagem. O público se altera em função do aumento de penetração da tatuagem na população”, conceitua o professor da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo, Marcos Bedendo. O que leva a sociedade moderna a marcar o próprio corpo? As justificativas podem ser as mais variadas, assim como os desenhos utilizados, no entanto, uma coisa é certa: as tatuagens têm a função de modificar a autoestima, ou seja, as marcas sobre o corpo oferecem a quem as utiliza um tipo de “poder” ou distinção sobre as demais. Nesse sentido, é possível que elas se assemelhem ao papel dos amuletos junto ao imaginário humano que, quando carregados, transmitem força, coragem e determinação. Além disso, a tatuagem igualmente pode servir para que as pessoas se sintam mais atraentes, ou seja, chamando mais a atenção em meio a um grupo.