Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: Tabagismo no século XXI

Redação enviada em 17/10/2016

Na década de 20, Edward Bernays, sobrinho de Freud, usou os estudos psicanalíticos de seu tio para reformular as técnicas de propaganda. Nessa época, foi contratado pela indústria do cigarro e, assim, conseguiu que o tabagismo, antes estigmatizado, torna-se um símbolo status e de independência para o público feminino, disseminando o seu vício. Hoje, no Brasil, apesar de serem vetadas propagandas incentivando o seu uso, o cigarro ainda é deveras presente na sociedade tupiniquim, tal como são os diversos efeitos negativos decorrentes desse consumo. A fim de reverter esse cenário, é preciso antes entender que o abuso da nicotina, como o de outras drogas, é compreendido de forma distorcida pela população, o que camufla as suas verdadeiras causas e dificulta sua cura. Muitas pessoas acreditam que a dependência química é a principal causa de vício em relação às drogas e, por isso, creem que os viciados são fracos que sucumbiram ao seu uso e, assim, devem ser penalizados. Essas, no entanto, desconsideram que o ser humano, desde que começou a explorar a natureza, consome plantas, além das alimentícias e medicinais, para alterar a sua consciência. O tradicional uso ritualístico de Ayauhasca por diversas tribos amazônicas, por exemplo, ilustra essa conjuntura. Se substâncias psicoativas eram usadas ancestralmente e não há relatos significativos de historiadores e arqueólogos sobre grandes vícios em sociedades primitivas, constata-se que, na verdade, os abusos não derivam da substância em si, mas do contexto que são utilizadas. Inclusive, relatos sobre a Guerra no Vietnã reforçam essa teoria. Enquanto em estado de tensão, propiciado pelo conflito, cerca de 20% dos soldados americanos estavam viciados em heroína, ao retornarem para o seu país e para o contato com seus familiares, findada a guerra, 95% dos dependentes interromperam o uso da droga sem, ao menos, necessitarem de tratamentos específicos. Dessa forma, percebe-se que a dependência contemporânea de drogas, como o tabaco, é o resultado de processos sociais que estimulam o seu uso. Nesse sentido, enquanto no passado o tabagismo era incentivado por propagandas persuasivas, hoje, no Brasil, seu abuso deriva, principalmente, da não garantia de necessidades básicas aos seus cidadãos. No experimento “Ratolândia”, o psicólogo Bruce Alexander descobriu que os ratos se viciavam em morfina quando afastados em celas separadas, mas que, quando postos em um ambiente arejado, com infraestrutura e repleto de outros companheiros, os vícios tendiam a desaparecer naturalmente. Analogamente, pode-se entender que os brasileiros, atualmente, consomem de forma abusiva a nicotina porque vivem em um ambiente que não é suficiente para lhes proporcionar um desenvolvimento psicológico saudável. Isso porque grande parte da população nacional sobrevive como que em uma cela: isolados por relações líquidas cada vez mais superficiais e, devido à precaridade do sistema público, também são desprovidos de seus direitos básicos, como o de alimentação, que, segundo Maslow, são a base que sustenta a felicidade de um indivíduo. Assim, como o viver é insuficiente para que o cérebro libere naturalmente os neurotransmissores relacionados ao prazer e ao bem-estar, muitos apelam para o efeito artificial provocado pelas drogas, viciando-se nesse enquanto sua condição não melhora. Torna-se evidente, portanto, que o abuso da nicotina é o resultado de uma conjuntura social que reforça o seu uso, ao passo que grande parte da população desconhece esse cenário. Para revertê-lo, logo, é fundamental que o MEC reformule o ensino básico, de forma a integrar nesse a matéria “Relações Modernas”. Nela, os alunos e, frequentemente, os seus responsáveis devem, por meio de gincanas, debates e oficinas, reaprender a importância do contato humano para um desenvolvimento saudável. Outrossim, é responsabilidade dos governos estatuais e municipais, em parcerias com a espera privada, criarem centros públicos de integração, como clubes esportivos, praças e parques, nos quais os cidadãos possam interagir. Para isso, pode-se estimular o incentivo privado por meio de isenções fiscais. Por fim, cabe a população já consciente se unir em ONGs e grupos online para divulgar os direitos não cumpridos pelo Estado e reivindicar perante a esse que mudanças sejam feitas. Destarte, será possível para os brasileiros deixarem as celas e vivenciarem a sua própria “Brasilândia”.