“Como é que irão viver os que virão depois, já que a única coisa que importa é o triunfo do agora? ” Esse questionamento do escritor José Saramago leva à conclusão de que há de fato, como afirma o pensador português, uma “cegueira da razão”. Nessa lógica, cabe analisar o atual cenário do sistema carcerário no Brasil e explicar a situação social a qual o detento está submetido neste sistema é indispensável para avaliar seus efeitos na contemporaneidade. Em um primeiro olhar, percebe-se que, a má infraestrutura na maioria das prisões brasileiras faz com que os presos firmem luta pela sobrevivência. Nesse sentido, é relevante pontuar que superlotação e a deterioração das celas e, até, a falta de água potável provam o descaso com o subsidio da integridade humana. A ideia do imediatismo que, como defende Saramago, cega o pensar, compreende-se em uma sociedade que paulatinamente torna-se cega a tais acontecimentos. Aliás, não se pode negar que tal condição supre a visão determinista do século XIX, cuja concepção filosófica estabelecia que o homem seria fruto do meio. Logo, verifica-se que esse olhar deve ser combatido, a fim de que este indivíduo possa se reintegrar à sociedade. Outro ponto, cuja perspectiva exige olhar atento, é o fato de que as cadeias nacionais são fábricas de crimes. Haja vista, as punições no cotidiano prisional, extrapolam os direitos humanos e não guardam proporção com os crimes cometidos. Vale ressaltar, neste caso, que após uma temporada em uma prisão brasileira, que está mais propensa a retirar dos prisioneiros o que lhes resta de humanidade, tornando uma ressocialização algo surreal. Em síntese, as penitenciarias são escolas de transgressão, aumentando o número de reincidências. É necessário, portanto, que o poder público estabeleça como meta a revitalização do sistema prisional brasileiro. Para isso, torna-se imprescindível uma reorganização nas instituições de reclusão, com a segmentação de presos com penas e crimes distintos, a fim de que, indivíduos com penas leves não tenham contato com a criminalidade brutal. Ademais, a criação de projetos sociais em parceria com ONG’s, na promoção de atividades pedagógicas, esportivas e educacional dentro das cadeias. Além de cooperação entre empresas pública e privadas na criação de oportunidades de trabalho a estes detentos durante e após suas penas, com o propósito de reinserção social aos detentos. Com medidas inclusivas e não exclusivas, a fim de cessar essa cegueira da razão que assola a sociedade contemporânea.