No poema "Morte do Leiteiro", do modernista Carlos Drummond de Andrade, é retratada a história de um entregador de leite que, ao ser confundido com um ladrão por seu cliente, acaba sendo morto a tiros. Esse tipo de cena não está restrita à literatura e ameaça se tornar mais presente na sociedade brasileira, caso o porte de arma seja liberado. Por esse motivo, é imprescindível garantir o cumprimento do Estatuto do Desarmamento, visto que a liberação da posse de armas de fogo pela sociedade não é a solução para a violência no Brasil. A priori, é contundente afirmar que o Estado brasileiro tem falhado no exercício da Constituição Federal, a qual delega ao Governo a preservação da ordem pública. Prova disso são os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mostram um crescimento de 14% no número de homicídios no Brasil, entre 2006 e 2016. Tendo isso em mente, é possível dissertar que, se o porte de armas for liberado, esse número só tende a aumentar, visto que, de acordo com o diretor do próprio Ipea, Daniel Cerqueira, nos locais onde há maior difusão de armas de fogo, a taxa de homicídios tende a crescer em 2%. Logo, refuta-se a ideia de que armar a população seria viável para reduzir a violência. A posteriori, é oportuno citar que os civis comuns não possuem a competência para utilizar um instrumento mortífero como as armas de fogo, pois esse uso nas mãos erradas pode acarretar em mais derramamento de sangue. Exemplo disso foi o Massacre de Realengo, uma chacina ocorrida em abril de 2011 quando um homem invadiu uma escola no Rio de Janeiro matando doze alunos e deixando vários feridos. Segundo a polícia, a motivação para o crime foi o bullying sofrido pelo atirador quando lá estudava. Esse caso prova que não é possível confiar na saúde psicológica das pessoas que portam armas, bem como suas verdadeiras intenções, o que coloca a sociedade em risco. Destarte, é coerente discorrer que a solução para o problema da violência no Brasil não se encontra na liberação do porte de arma, mas, sim, na raiz do problema. Portanto, medidas para o combate à violência se fazem necessárias. Para tanto, os prefeitos e governadores deverão investir no policiamento civil, por meio da contratação de mais profissionais que serão selecionados por intermédio de concurso público, com aumento na remuneração em 50%. Essas medidas devem angariar profissionais qualificados e valorizados para que estes resolvam o problema da segurança pública, e não o cidadão comum com uma arma de fogo. Dessa maneira, casos como o descrito por Carlos Drummond em sua poética serão evitados, contribuindo com a paz nacional.