As reflexões acerca da obra de Guimarães Rosa, expoente do modernismo no Brasil, sobretudo no conto "O Espelho", abordam de maneira introspectiva a complexidade de um espelho. Na real conjuntura do mundo contemporâneo, o espelho é notabilizado primordialmente por um viés: instrumento que mede a perfeição. A deturpação do conceito de beleza na sociedade reflete um cenário desafiador, seja por meio da mercantilização do corpo , seja por meio da ditadura do padrão do belo. Ao avaliar a concepção do perfeito, nota-se que a ascensão do capitalismo promoveu a busca de um físico que fornecesse uma maior produtividade, logo, o mercado conceituou - de maneira análoga à morfologia da voz reflexiva - o corpo como agente e alvo do consumo. Bauman, na obra "Vida para Consumo", enfatiza que o único item que não se insere na lista de consumo é a opção de não consumir. Sob tal análise, é indubitável que a transfiguração do ser humano a um objeto alienado integrante do ciclo capitalista possui ligação direta com a comercialização do corpo. Ademais, cabe ressaltar que a ditadura da beleza fomenta a alteração conceitual de perfeição. Segundo o pensamento kantiano, o belo agrada, porém é relativo a cada observador, já que o julgamento estético depende de uma reação pessoal. Nessa ótica, a imposição de um padrão, sobretudo através de propagandas midiáticas, configura uma conduta anti-ética que demanda imediata resolução, uma vez que suprime a heterogeneidade estética e infringe direitos individuais de expressão. Desse modo, depreende-se que a coisificação humana em paralelo à cultura ditatorial do perfeito consubstancia a alteração dos valores culturais e individuais de beleza. Torna-se imprescindível que o Estado, sob a forma do Ministério da Cultura, formule políticas públicas de incentivo à diversidade física e racial por meio de subsídios ao sistema publicitário que enunciar tais diversificações a fim de desconfigurar o padrão vigente. De maneira análoga, urge que a mídia, por meio de concursos de beleza televisionados, transmita e propague essa diversidade através da exposição de múltiplas facetas da humanidade. Apenas sob tal perspectiva, as várias formas da imagem de um espelho, idealizado por Guimarães Rosa, poderão ser refletidas.