Título da redação:

A ditadura de Parnaso

Tema de redação: Padrão de beleza e sociedade.

Redação enviada em 12/04/2016

A partir da consolidação do Capitalismo na sociedade brasileira, a normatização de um modelo corporal é focada como produto de uma economia de mercado, haja vista as pressões publicitárias recorrentes. Diante disso, transtornos alimentares e psicossociais, como bulimia e depressão, são reflexos de uma sociedade que, apesar de moderna, permanece refém de padrões impostos em favor de interesses específicos. Nessa perspectiva, é válido analisar as implicações da padronização da beleza em âmbitos socioeconômicos, pela interferência na conjuntura de capital, e individuais, pela influência no cotidiano popular. É importante salientar que o caminho para elucidar a problemática encontra seu primeiro obstáculo na delimitação do poder midiático na vida da população. Para o filósofo Max Horkheimer, os meios de cultura de massa servem para reforçar as pressões sociais sobre a individualidade. De maneira análoga, é possível perceber que a adoção de um modelo de corpo perfeito parte da participação da mídia, por meio da lógica publicitária, a qual induz a concepção daquela forma para que o indivíduo seja aceito no meio social, é caso da própria indústria da moda, que divide seus adeptos mediante o número do manequim utilizado. Em consequência, há uma pressão indiscriminada ao associar, muitas vezes, a silhueta ideal à felicidade e à aceitação, o que resulta em uma incessante busca popular por aquele conceito, por vezes, inatingível. Desse modo, vê-se uma sociedade refém de uma estrutura de mercado favorável ao Capitalismo, em que o corpo se tornou apenas uma nova mercadoria. Outrossim, a idealização de uma forma corporal possui raízes profundas ligadas a questões coletivas e de gênero. Segundo Friedrich Nietzsche, o homem real, desde o nascimento, é submetido a valores – elemento formador da cultura. Nesse sentido, observa-se que o ideal de corpo trata-se de um aspecto cultural, presente, desde a mais tenra idade, por exemplo, em brinquedos que representam uma ideia de corpo e vida a serem seguidos. Convém ressaltar que a mulher encontra-se no setor mais afetado por estar acometida por ideologias machistas e conservadoras as quais visam uma padronização da figura feminina. Prova disso são os índices alarmantes de problemas psicológicos e nutricionais associadas à busca pelo físico perfeito, como depressão, bipolaridade e bulimia, principalmente, entre as mulheres. Dessa feita, a sociedade não efetiva a moralidade e a ética no que tange a estrutura física, muitas vezes, por conta da dificuldade de aceitar as diferenças recorrentes da pluralidade das civilizações. Entende-se, portanto, que o padrão de beleza imposto implica em questões sociais graves, como doenças e valores excludentes, uma vez que encontra respaldo na manipulação midiática, pela difusão desses conceitos. Por isso, a fim de atenuar o problema, o Governo Federal, aliado à mídia, deve, em longo prazo, garantir a divulgação de diferentes perspectivas sobre o corpo, por meio de canais comunitários de debate e instrução, além de fiscalizar os abusos publicitários sob o auxílio de agentes de segurança. Ademais, é urgente a sinergia entre escolas e famílias em ir além dos conteúdos disciplinares, com o intuito de aguçar o senso crítico dos jovens acerca dos valores divulgados sobre o físico, além de reforçar a tolerância em fóruns e núcleos de discussão periódica, por intermédio de professores e psicólogos. Analogicamente ao monte Parnaso, fonte de inspiração para a beleza padrão Greco-romana, uma ditadura do corpo perfeito afeta as pessoas ao coagi-las a escalar um conceito e, por vezes, morrer buscando adequar-se às imposições.