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Redação sem título.

Tema de redação: Os relacionamentos abusivos em questão no Brasil e seus fatores impulsionadores

Redação enviada em 27/12/2018

O filme norte-americano “Gas Light”, lançado em 1944, conta a estória de um marido manipulador que, mal-intencionado, tenta convencer a esposa, até então sã, de que ela está louca. Para tanto, o esposo adultera pequenos detalhes no ambiente doméstico, além de denegrir a companheira perante outras pessoas, fragilizando-a emocionalmente frente à sociedade. Décadas mais tarde, no Brasil, esse tipo de relacionamento abusivo se tornou um problema de segurança e de saúde públicas, revelando que tanto o modelo familiar patriarcal quanto o machismo, ambos enraizados nos círculos sociais, são nocivos à integridade da mulher brasileira. Em decorrência disso, dados publicados no “Atlas da Violência” de 2018 corroboram a vergonhosa quinta posição ocupada pelo Brasil no ranking mundial de países mais perigosos para mulheres. Infelizmente, isso é possível devido às agressões diárias sofridas por inúmeras brasileiras, vítimas de relacionamentos abusivos. Ademais, conforme William Nichols, psicólogo especialista em conflitos conjugais, homens violentos costumam praticar a manipulação psicológica sistêmica contra as companheiras, buscando alterar, de maneira nociva, a percepção de realidade e de auto-estima delas, assim caracterizando o “gaslighting”. Por sua vez, essa prática criminosa, nomeada em alusão ao clássico filme da década de 1940, acarreta danos sociais relevantes, uma vez que a mulher fragilizada pelo relacionamento abusivo deixa de confiar em si mesma, sendo comumente afastada de suas atividades pessoais e profissionais. Consequentemente, a mulher vítima de violência doméstica deixa de contribuir ativamente para a economia, na educação dos filhos e à manutenção do próprio lar. Dentre os nefastos pilares que sustentam a violência contra a mulher, dois ganham destaque: o modelo familiar patriarcal e o machismo. Característico das “famílias tradicionais”, o patriarcado é um sistema no qual o homem detém o poder, a liderança e a autoridade nos vários âmbitos sociais. Facilmente perceptível ao longo da trama de “Gas light”, a postura patriarcal do agressor conduz ao “adestramento” social da mulher, ou seja, ela passa a ser subserviente aos desejos e vontades do companheiro, sempre em detrimento dos próprios. Assim sendo, de acordo com os preceitos do filósofo Foucault, o sutil controle masculino praticado no âmbito doméstico vai ao coletivo, onde toma forma mais agressiva e adquire nuances contrárias à igualdade de gênero, passando então a ser o conhecido machismo. Como resultado dessa transformação, o “Atlas da Violência de 2018” revela que todos os dias são registrados no país cerca de 13 casos de feminicídio, crime de ódio no qual mulheres são assassinadas em razão do gênero. Além disso, diariamente são contabilizados 135 casos de um dos piores tipos de violência cometida contra a mulher: o estupro. Frente à complexidade do assunto, caberá ao Ministério da Educação divulgar, mediante material impresso e campanhas rádio-televisivas, os direitos das mulheres, bem como os canais para denúncias e auxílio às vítimas da violência doméstica. Enquanto isso, o Ministério da Segurança deverá investir na prevenção da violência contra a mulher por meio da atuação das delegacias da mulher no que tange à realização de palestras de conscientização voltadas à população. Aos oficiais lotados nessas delegacias, caberá a entrega de material informativo cujo objetivo será a instrução da população, em especial os homens, quanto à caracterização e à penalização da violência doméstica, reforçando a necessidade de denúncia e consequente punição dos agressores conforme preconiza a lei.