Título da redação:

Humor sim, humilhação não

Tema de redação: Os limites entre humor e ofensa

Redação enviada em 13/04/2018

Como disse o poeta e escritor brasileiro, Augusto Branco, “As pessoas gostam do ideal de liberdade de expressão até o momento em que começam a ouvir aquilo que elas não gostariam que dissessem a respeito delas”. Essa é uma frase que exemplifica bem um debate atual no Brasil, os limites entre humor e ofensa. Nessa altercação, tem-se basicamente duas tendências de opinião, a dos que são avessos a qualquer limitação àquilo que é dito para causar o riso, e a dos que defendem de que o direito de expressão, e por conseguinte ao humor politicamente incorreto, não pode se sobrepor ao direito à dignidade das pessoas. Deve-se então encontrar uma maneira de não se censurar o direito de dizer coisas tolas para causar o riso, mas também assegurar que indivíduos não sejam humilhados e ofendidos gratuitamente. Muitos humoristas defendem o direito às piadas politicamente incorretas argumentando que essas sempre terão uma vítima, e que proibir chacotas sobre essa vítima é um ato de censura. Contudo, sabe-se que a comicidade não se gera apenas se apontando os defeitos dos outros –um ato que é cruel, pois muitas vezes essas imperfeições não podem ser mudadas–, mas também destacando-se as atitudes tolas de si mesmo, ou comportamentos sociais no geral que são cômicos, como alguém cortando as unhas dos pés no metrô, ou vestindo um pijama para ir ao supermercado. Também contrapondo à ideia de que o humor sobrevive do ataque gratuito, tem-se os “memes”, acontecimentos tais como falas ou fotos cômicas nas redes sociais que se difundem rapidamente, mas sem o objetivo de atacar a integridade de ninguém. Outro problema que surge é a diminuição do valor da dignidade humana por parte dos que advogam pelo humor ofensivo e sem limites. Dizem essas pessoas que os atingidos pelo deboche cruel são “vitimistas” e que uma piada não pode ferir ninguém. Aqui novamente tem-se uma inverdade, e um exemplo concreto disso é o caso de Michele Maximino, enfermeira pernambucana que foi chamada de “vaca” pelo humorista Danilo Gentili no programa de TV “Agora é Tarde”. Michele é doadora de leite materno e, após a repercussão da chacota, teve de se mudar com sua família da cidade onde morava, com sua saúde física e mental debilitadas pelo modo como era reconhecida pelas ruas. A Justiça reconheceu que uma piada “fere” sim, e gravemente, ordenando que o humorista indeniza-se a enfermeira. Diante do que foi exposto, se percebe que deve haver sim limites ao humor e medidas necessitam ser tomadas. Compete ao Ministério da Cultura desencorajar eventos culturais que tenham como tema a ofensa direta e gratuita a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, criando, para isso, uma campanha de âmbito nacional veiculada em rede aberta de rádio e televisão, para que se crie a consciência de que existe o humor saudável que não necessita de ataques. Em contrapartida, o Congresso deve criar uma lei, por meio de discussões e votações, que penalize, com multa ou obrigação de indenização, eventos ou falas públicas que ataquem diretamente um cidadão ou grupo sob o pretexto do humor. Assim, não será necessário censurar algo tão característico da humanidade como a comédia e também se garantirá que as vítimas do deboche desmedido sejam protegidas e compensadas caso necessário.